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JUSTIÇA
Ministro Celso de Mello culpa legislação britânica pela permanência do assaltante do trem pagador no Brasil
STF livra Ronald Biggs de extradição
SILVANA DE FREITAS
da Sucursal de Brasília
O STF (Supremo Tribunal Federal) arquivou ontem o pedido de
extradição do inglês Ronald Arthur Biggs, 68, condenado por ter
participado do crime conhecido
como assalto ao trem pagador.
Os ministros foram unânimes
em considerar a prescrição do crime, conforme a legislação penal
brasileira, o que impede o recebimento do pedido formulado pelo
governo britânico.
O assalto ocorreu em agosto de
1963. Biggs foi preso e condenado a
30 anos de reclusão, mas fugiu em
julho de 1965.
Pelo Código Penal brasileiro, esses crimes prescreveram 20 anos
depois.
Esses crimes ainda não prescreveram no Reino Unido, mas o Estatuto do Estrangeiro estabelece
que, antes de julgar a extradição, o
STF deve levar em conta o prazo
estabelecido pela legislação brasileira.
Se o crime não for mais punível
no Brasil, a extradição não pode
ser concedida.
O ministro Sepúlveda Pertence
declarou-se impedido de votar
porque, na condição de advogado
de Biggs, na década de 70, o livrou
de um processo de expulsão do
país.
Maioria atendida
O presidente do STF, ministro
Celso de Mello, fez pronunciamento para denunciar o risco de o
Brasil ser acusado pela comunidade internacional de servir de "refúgio de delinquentes criminosos".
Mello disse que, desde 1º de janeiro de 89, o STF acatou 86% dos
239 pedidos de extradição ajuizados por 24 países.
Segundo ele, as rejeições foram
decorrentes de falhas processuais,
morte do extraditando ou desistência do pedido.
O ministro acusou o governo
britânico, indiretamente, de ser
responsável pela permanência de
Biggs no Brasil, há mais de 25 anos.
A legislação britânica não admite
a formulação de pedido de extradição a país com o qual o Reino Unido não tenha tratado de extradição.
O tratado entre o Brasil e o Reino
Unido só entrou em vigor em outubro último.
"O Brasil não é refúgio de delinquentes criminosos. Os pedidos
formulados de maneira regular,
haja ou não tratado de extradição,
são invariavelmente atendidos."
Mello citou exemplo da Alemanha, que só perde para a Itália em
número de pedidos de extradição
apresentados ao Brasil em quase
nove anos.
O STF recebeu 47 pedidos de extradição de alemães, embora
aquele país não tenha tratado de
extradição com o Brasil.
Promessa
Nesse caso, os dois países firmam promessa de reciprocidade
para troca de pessoas procuradas
pela Justiça.
Relator do pedido de extradição
de Biggs, Maurício Corrêa disse
que preferiu submeter a decisão ao
plenário para encerrar, definitivamente, a discussão. Com isso, não
há possibilidade de recurso por
parte do governo inglês.
Biggs foi condenado a
30
anos de prisão,
pela Justiça
britânica,
por participação no
assalto ao trem
pagador, ocorrido
em agosto
do ano de 1963
Foram feitos
239
pedidos de
extradição
ajuizados
por 24
países desde 1º
de janeiro
de 1989, dos quais 86% foram acatados,
segundo o Supremo Tribunal Federal
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