São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 2000

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Bala perdida atinge garoto no Rio e gera protesto de 15 horas

VIVIANE PAULA VIANA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma bala perdida, que atingiu um menino de seis anos, desencadeou um protesto de mais de 15 horas de moradores da favela de Parque Royal, na Ilha do Governador -zona norte do Rio de Janeiro. Os manifestantes fecharam a estrada Chagas Freitas, principal via de acesso à favela, e ameaçaram atear fogo e apedrejar veículos que passavam pelo local.
O protesto teve início por volta das 19h de segunda-feira. O menino Carlos Cesário Fernandes Domingos, 6, brincava com outras crianças na praça da favela quando os moradores ouviram tiros. Carlos chegou a se esconder numa casa próxima, mas acabou sendo atingido quando tentava voltar para sua residência, que fica a cerca de dez metros do local.
A bala atingiu a cabeça do garoto, que, até o início da noite de ontem, encontrava-se internado em estado grave no hospital Souza Aguiar, no centro do Rio.
Os manifestantes acusam a polícia de ser a responsável pelo tiro, pois, segundo eles, policiais chegaram na favela atirando. O comandante do 17º Batalhão, Mário dos Santos Pinto, disse que os policiais atiraram para defender-se. "Os PMs faziam o patrulhamento de rotina e, ao abordarem um indivíduo suspeito, foram recebidos com uma chuva de balas disparadas por traficantes", afirmou.
Foi registrado na 37ª DP (Delegacia de Polícia) o depoimento de um morador que confirma a versão policial. Segundo o depoente, cujo nome foi mantido em sigilo pela polícia por uma questão de segurança, de três a cinco homens dispararam "uns 15 tiros" contra os policiais, que então teriam revidado. O tenente José Luiz de Souza foi ferido com um tiro de raspão durante o tiroteio e levado para o hospital da Aeronáutica, na Ilha do Governador.
Os manifestantes contestam a versão. "Isso não é verdade. Os traficantes não atirariam com a praça cheia de crianças", afirmou Josirene da Silva Pereira, 37, moradora do bairro e tia do menino.
O pai do menino, Robertos Domingos, 33, estava em casa quando tudo aconteceu. "Ao ouvir os tiros, saí correndo para buscar as crianças, mas cheguei tarde demais." Cássia Regina Cesário, a mãe de Carlos, passou mal quando soube do fato. Após o acidente, moradores foram para a rua protestar e enfrentaram os policiais jogando pedras e paus. A manifestação prosseguiu durante toda a madrugada e o dia de ontem. Para desobstruir a estrada e impedir confusão, foi chamada a polícia, que montou guarda na favela.


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