São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NARCOTRÁFICO

Em gravações, nome de juiz é mencionado por pessoas ligadas a deputado suspeito de intermediar venda de habeas corpus

Ministro do STJ é citado em investigação

ALESSANDRO SILVA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O nome do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Vicente Leal de Araújo é citado nos relatórios de grampos telefônicos da Polícia Federal na investigação que aponta a venda de habeas corpus para narcotraficantes.
O ministro Araújo foi procurado durante toda a tarde de ontem por telefone, mas as ligações não foram atendidas em seu gabinete no STJ.
A reportagem também procurou o ministro pessoalmente, mas foi informada pela chefe de gabinete, que se identificou apenas como Rita, que Leal tinha viajado ontem para Fortaleza após a sessão da 6ª Turma da corte.
Não há conversas diretas do ministro do STJ com traficantes da quadrilha de Leonardo Dias Mendonça, o Leo, preso nesta semana na Operação Diamante.

Deputado
O nome do ministro Araújo aparece em diálogos entre pessoas ligadas ao deputado federal Pinheiro Landim (PMDB-CE), suspeito de intermediar contatos com o Judiciário para a venda de habeas corpus.
Segundo a investigação da Polícia Federal, o deputado, seu assessor Igor Santos da Silveira, filho do desembargador do TRF da 1ª Região Eustáquio Silveira, e um advogado de Brasília de nome Márcio coordenavam os contatos dessa rede de influência. Os traficantes, segundo as investigações, não falavam diretamente com os magistrados.
Em nota divulgada na última terça-feira, Eustáquio Silveira negou que tivesse concedido habeas corpus a Mendonça.
A Polícia Federal também identificou outro deputado federal que atuaria em conjunto com Landim, supostamente fazendo tráfico de influência com juízes federais. Esse congressista também seria suspeito de homicídio no Ceará.
O ministro do STJ Vicente Leal e dois desembargadores do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, entre eles Eustáquio Silveira, deverão ser investigados por causa das gravações feitas pela Polícia Federal.

Relatório
""Igor é funcionário do gabinete do deputado federal Pinheiro Landim e filho do desembargador federal Eustáquio da Silveira, existindo notícias nos autos de envolvimento de ambas as autoridades em esquema de corrupção para favorecimento de réus em processos de tráfico de drogas", afirma o juiz José Godinho Filho, da 5ª Vara Federal de Goiás, no relatório em que decretou a prisão de integrantes da quadrilha de Mendonça, assinado no dia 15 de outubro.
No documento, do início da operação, Godinho negou o pedido de prisão do assessor do deputado porque ele não estaria envolvido com o tráfico, mas com outros delitos, definidos como ""corrupção destinada à obtenção da absolvição ou soltura dos membros da organização dos presos".
De acordo com a polícia, a rede de influência teria funcionado ativamente nos últimos três anos.
O deputado Pinheiro Landim não atendeu aos telefonemas da Folha para seu celular e não foi localizado em seu gabinete na Câmara ontem.
A Polícia Federal está avaliando a possibilidade de transferir para Brasília o traficante Leonardo Dias Mendonça e outros 22 integrantes de sua quadrilha, considerada a maior distribuidora de cocaína do país, segundo o chefe da Comunicação Social da Polícia Federal, delegado Reinaldo de Almeida César.
Todos foram presos no último dia 9, numa grande operação realizada pela Polícia Federal em nove Estados e no Distrito Federal, e estão em Goiânia.
Se forem transferidos, eles ficarão em prisão preventiva na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília.


Texto Anterior: Dengue: Portaria define índice de perigo à saúde pública
Próximo Texto: Justiça: Seminário discute lavagem de dinheiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.