São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 2008

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Presos 41 suspeitos de fornecer droga ao PCC

Segundo a PF, quadrilha trazia cocaína da Bolívia para fazendas em Mato Grosso e repassava para 5 núcleos de redistribuição

Operação foi realizada em sete Estados e no Distrito Federal; em 9 meses, grupo comercializou 15 toneladas de pasta de cocaína

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Uma operação feita pela Polícia Federal em sete Estados e no Distrito Federal prendeu ontem 41 pessoas suspeitas de participar de um esquema de tráfico internacional de drogas que, segundo as investigações, tinha como principal cliente a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Outras 11 pessoas estavam foragidas até ontem à noite. Cerca de 400 policiais cumpriram 73 mandados de busca e apreensão determinados pela Justiça Federal de Mato Grosso em 29 cidades (a maioria do próprio Estado e de Goiás, São Paulo, Maranhão, Minas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal).
A PF batizou a operação de Aracne, em alusão às teias de contato armadas pela quadrilha. O esquema tinha dois cartéis bolivianos como fornecedores. A droga era trazida de Santa Cruz de La Sierra para o território brasileiro em aviões bimotores e depositada em quatro fazendas mantidas pela quadrilha como entrepostos. Os estrangeiros foram identificados, mas não foram o alvo das prisões, segundo a PF.
Foram identificadas oito pistas de pouso clandestinas usadas pelo grupo na região, mas a PF disse que o número deve ser maior. "Às vezes, chegavam vários vôos por semana e eles sempre alternavam os locais de entrega", disse o delegado Éder Rosa de Magalhães, que coordena as investigações.
Das fazendas, a droga seguia em carretas e caminhões frigoríficos para cinco núcleos de processamento e redistribuição. "Eram despachados 500 quilos, uma tonelada por caminhão. Usavam fundos falsos e, para disfarçar, recorriam a cargas de produtos agrícolas, como milho, carne e amendoim."
A droga era redistribuída para cinco núcleos encarregados de processar a pasta-base de cocaína e repassá-la a traficantes. Quatro dos núcleos ficam em São Paulo -os dois principais (responsáveis pela compra de até 70% do material) estão na capital e, segundo a PF, têm ligação direta com o PCC.
Somente nos últimos nove meses, segundo a PF, os núcleos ligados ao grupo receberam cerca de 15 toneladas de pasta-base de cocaína. "O PCC era o cliente principal, e a quadrilha de Mato Grosso era provavelmente a fonte da maior parte da cocaína que o grupo comercializa em São Paulo."
Segundo o delegado, há líderes da facção entre os que tiveram a prisão preventiva decretada -a PF não divulgou o nome de nenhum dos suspeitos.
Em Mato Grosso, a quadrilha era comandada por um fazendeiro de Campo Novo do Parecis (291 km de Cuiabá). Proprietário de máquinas agrícolas, tratores e caminhões, ele empregava a estrutura para abrir pistas de pouso e para fazer o transporte das cargas.
As investigações começaram há um ano e três meses. Em maio, a PF passou a interceptar parte da carga -para não levantar suspeitas, os flagrantes eram feitos sempre em locais distantes dos entrepostos.
O trabalho resultou na apreensão de três toneladas de pasta-base (cerca de 20% de todas as apreensões da droga no país em 2008). Além das prisões, a Justiça decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos investigados, além do seqüestro e indisponibilidade dos bens (imóveis urbanos e rurais, empresas, aeronaves, automóveis, contas bancárias, dinheiro e jóias, entre outros).
A maior parte desse patrimônio, diz a PF, foi adquirida pelo grupo em nome de "laranjas", como forma de "lavar" o dinheiro obtido no esquema.


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