São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2001

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Novo governo dos EUA ameaça ação afirmativa



SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A ação afirmativa, que tanta polêmica já causou nos EUA mas que de uma maneira ou de outra acabou se incorporando à paisagem local, corre sérios riscos com o governo George W. Bush.
Dois de seus principais membros do gabinete, que assumem no dia 20 de janeiro, já se manifestaram contra leis que garantam cotas de minorias em empresas, órgãos públicos e, principalmente, escolas e universidades.
São eles John Ashcroft, indicado para a Secretaria de Justiça, e Elaine Chao, que assume a pasta do Trabalho. O conservador Ashcroft, que ocupará um cargo-chave no governo, já defendeu, em pelo menos dois textos, que o mérito prevaleça sobre questões de raça ou sexo na educação.
A situação estaria pior, porém, se a primeira escolha de Bush para a pasta do Trabalho, Linda Chavez, fosse confirmada. Mais radical do que Chao, ela renunciou à indicação sob acusação de ter empregado uma imigrante ilegal no começo dos anos 90.
O que está em jogo não é desprezível. Nos últimos 25 anos, desde que a ação afirmativa começou a ser pauta dos grupos civis, o total de estudantes negros em universidades norte-americanas passou de 9,6% (em 1976) para 11% no ano passado.
Segundo estimativas do Censo 2000, a população do país hoje é formada por 71,3% de brancos (não contados os de origem hispânica) e 12,2% de negros. Do total de universitários nos EUA, cerca de 73,2% são brancos.
A ação afirmativa nas universidades dos EUA nasceu dos movimento pelos direitos civis, há três décadas. Defende que as minorias, entre elas os negros, e as mulheres devem ter consideração especial no acesso à educação.
No passado recente, teve seu auge no começo do segundo mandato do presidente Bill Clinton. Hoje, na iminência da mudança de governo, perde seguidores.
A ONG conservadora Centro Nacional de Análise Política, por exemplo, um dos mais atuantes órgãos anti-ação afirmativa, apresenta dados eloquentes. Em 1999, a Flórida passou lei que proíbe o recurso em suas universidades, por considerá-lo anticonstitucional (feriria o princípio de que todos são iguais para a lei).
Desde então, as faculdades garantem vagas automaticamente para os 20% mais bem colocados dos colégios públicos do Estado. Comparando com o último ano da ação e o primeiro da "Lei dos 20%", como foi batizada, a presença das minorias aumentou.


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