São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2001

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RIO GRANDE DO SUL


"Não pode ser negra", diz pedido de contratação de empregada

DRT investiga caso de racismo



LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A coordenadoria do núcleo de combate à discriminação da DRT (Delegacia Regional do Trabalho) do Rio Grande do Sul investiga um caso no qual foi pedida a contratação de empregada doméstica que não fosse negra.
O fato ocorreu em Gravataí (região metropolitana de Porto Alegre) nesta semana. A Agência Folha teve acesso ao pedido de contratação feito ao Sine (Serviço Nacional de Emprego). A empregadora, a empresária Maria Elita, fez observações no anúncio.
"Não pode ser negra; preferência que more em Gravataí; fazer todo o serviço; inclusive cozinhar; tem quatro pessoas adultas; se quiser, pode morar no emprego." Com essa descrição, há dois outros itens: experiência de seis meses e "s/CTPS".
"Eu e meus filhos não somos racistas, até temos amigos negros. Meu marido não queria uma negra, e eu fiz o anúncio em respeito a isso. Na minha empresa, tivemos empregados negros. Hoje não temos, mas porque reduzimos o quadro. É muito natural. E quem não quer obesos?", disse Maria Elita.
"Vamos encaminhar essa denúncia à fiscalização para que essa ação seja punida, após investigarmos as provas. Vamos fazer toda a investigação e enviar para a Procuradoria do Trabalho. Se houver prova para isso, a pessoa vai ser penalizada. A discriminação racial é crime. Mas o mais importante é esclarecer as pessoas. O grave é que a pessoa não sabe que está sendo racista", disse a coordenadora do núcleo, Márcia Suarez.

Notícia-crime
O advogado Antônio Carlos Côrtes, representante de movimentos negros, adiantou para a Agência Folha que entrará com uma notícia-crime contra a empresária no Ministério Público de Gravataí, paralelamente à atuação da DRT. Quanto à inscrição ""s/ CTPS", o advogado acredita que a tradução é a seguinte: sem a Carteira de Trabalho e Previdência Social.
"Muitas vezes as pessoas racistas não se controlam mais e extravasam esse racismo. Ainda no último fim-de-semana, eu examinava os classificados e percebi a sutileza das pessoas. Havia um anúncio pedindo uma empregada doméstica e dando preferência para o fato de ela falar alemão ou dialeto. É óbvio que o afrodescendente dificilmente vai ser alemão."


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