São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2001

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CRÍTICA


Abertura imola Beatles e leva público à grama



PEDRO ALEXANDRE SANCHES
LÚCIO RIBEIRO

ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
No primeiro dia de festival, o Rock in Rio foi 100% MPB in Rio -de certo modo, James Taylor e Sting já são MPB, especialmente o primeiro, que a cada década e meia dá um pulo aqui para ressuscitar um pouquinho.
Para lá disso, Jacarepaguá viveu seu dia de Parque dos Dinossauros, Daniela Mercury à parte. De resto, foi saudosismo e mais saudosismo, forma levíssima de começar a grande jornada.
Um ser do século passado caído de pára-quedas no imenso Palco Mundo até pensaria estar vendo um show dos Beatles, senão seu assassinato propriamente dito.
Primeiro, Milton Nascimento e Gilberto Gil deram largada à corrida trucidando Lennon, numa versão titubeante da mais capciosa das canções do século 20, "Imagine", modo tosco e inevitável de começar um evento pró-catarse.
Logo a Orquestra Sinfônica Brasileira mutilou "Eleanor Rigby", recortada num pot-pourri que viajava de "I can get no satisfaction" a "senhor juiz, pare agora".
Voltando, Milton cantou, como não poderia deixar de ser, sua bela "Para Lennon e McCartney" (70). Mais adiante, Gil tingiu de reggae "Something", outra de "nossos queridos Beatles". Pobres Beatles.
No mais, a Cidade do Rock viveu um dia bicho-grilo, viajandão. Leve, muito leve. Milton sucedeu pot-pourris sublinhando a mineirice (pela companhia de Lô Borges em músicas de três décadas atrás) e o santo clã mineiro.
Ele e Lô cantaram "Resposta", dos conterrâneos moços do Skank, banda que caiu fora da festa com o "grupo dos seis", em ato de rebeldia desastrada -para que, Milton, se não cabe rebeldia no tal "mundo melhor"? O artista fez o que pôde, entre peças de MPB-jazz como "Cravo e Canela" (72), "Fé Cega, Faca Amolada" (75) e "Nos Bailes da Vida" (80).
Soariam perfeitas em Woodstock, mas aqui o público ficou disperso, a ponto de Gil, após duetos, ter de puxar umas quatro vezes o nome "Milton Nascimento" para que o público entendesse e aplaudisse a saída do velho mestre.
Cheio de energia e de espírito trabalhador, Gilberto Gil comandou a multidão feito sacerdote, apostando no certo e evidente.
O saudosismo se bandeou para os anos 80, na fase reggae-rocker do baiano. Entusiasmou velhos e moços com "Realce" (79), "Punk da Periferia" (84), "Palco" (81)... Arrematou com Bob Marley e Luiz Gonzaga, num show antigo e indulgente, mas plenamente convincente. E viva o mundo melhor, que acaba de começar...
James Taylor, empunhando seu destemido violão, estreou o rol das atrações internacionais do festival com o mesmo show de todos os anos. Quem fechasse os olhos talvez acreditasse estar na primeira edição do festival, em 85.
Com meio público esboçando acenos no acompanhamento de suas baladas folk e a outra metade deitada no gramado (dormindo?), o cinquentão Taylor desfilou sucessos empoeirados, de "Only a Dream in Rio" (arriscando palavras em português) a "How Sweet It Is", por cerca de uma hora.
O ponto alto, como previsto desde 85, foi a imortal "You've Got a Friend", com a platéia engatando um backing vocal gigante, acordando até os deitados.
Perto de James Taylor, o show do inglês Sting parecia heavy metal. Com uma banda grande, o ex-Police conseguiu compactar e dar movimentação ao até então inerte público. Entrando à 1h55, o cantor iniciou com "If You Love Somebody, Set them Free". Lembrança do ex-grupo só foi aparecer na sétima música, com "Every Little Thing She Does Is Magic".


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