|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Abertura imola Beatles e leva público à grama
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
LÚCIO RIBEIRO
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
No primeiro dia de festival,
o Rock in Rio foi 100% MPB
in Rio -de certo modo, James
Taylor e Sting já são MPB, especialmente o primeiro, que a cada
década e meia dá um pulo aqui
para ressuscitar um pouquinho.
Para lá disso, Jacarepaguá viveu
seu dia de Parque dos Dinossauros, Daniela Mercury à parte. De
resto, foi saudosismo e mais saudosismo, forma levíssima de começar a grande jornada.
Um ser do século passado caído
de pára-quedas no imenso Palco
Mundo até pensaria estar vendo
um show dos Beatles, senão seu
assassinato propriamente dito.
Primeiro, Milton Nascimento e
Gilberto Gil deram largada à corrida trucidando Lennon, numa
versão titubeante da mais capciosa das canções do século 20, "Imagine", modo tosco e inevitável de
começar um evento pró-catarse.
Logo a Orquestra Sinfônica Brasileira mutilou "Eleanor Rigby",
recortada num pot-pourri que
viajava de "I can get no satisfaction" a "senhor juiz, pare agora".
Voltando, Milton cantou, como
não poderia deixar de ser, sua bela
"Para Lennon e McCartney" (70).
Mais adiante, Gil tingiu de reggae
"Something", outra de "nossos
queridos Beatles". Pobres Beatles.
No mais, a Cidade do Rock viveu um dia bicho-grilo, viajandão. Leve, muito leve. Milton sucedeu pot-pourris sublinhando a
mineirice (pela companhia de Lô
Borges em músicas de três décadas atrás) e o santo clã mineiro.
Ele e Lô cantaram "Resposta",
dos conterrâneos moços do
Skank, banda que caiu fora da festa com o "grupo dos seis", em ato
de rebeldia desastrada -para
que, Milton, se não cabe rebeldia
no tal "mundo melhor"? O artista
fez o que pôde, entre peças de
MPB-jazz como "Cravo e Canela"
(72), "Fé Cega, Faca Amolada"
(75) e "Nos Bailes da Vida" (80).
Soariam perfeitas em Woodstock, mas aqui o público ficou disperso, a ponto de Gil, após duetos,
ter de puxar umas quatro vezes o
nome "Milton Nascimento" para
que o público entendesse e aplaudisse a saída do velho mestre.
Cheio de energia e de espírito
trabalhador, Gilberto Gil comandou a multidão feito sacerdote,
apostando no certo e evidente.
O saudosismo se bandeou para
os anos 80, na fase reggae-rocker
do baiano. Entusiasmou velhos e
moços com "Realce" (79), "Punk
da Periferia" (84), "Palco" (81)...
Arrematou com Bob Marley e
Luiz Gonzaga, num show antigo e
indulgente, mas plenamente convincente. E viva o mundo melhor,
que acaba de começar...
James Taylor, empunhando seu
destemido violão, estreou o rol
das atrações internacionais do
festival com o mesmo show de todos os anos. Quem fechasse os
olhos talvez acreditasse estar na
primeira edição do festival, em 85.
Com meio público esboçando
acenos no acompanhamento de
suas baladas folk e a outra metade
deitada no gramado (dormindo?), o cinquentão Taylor desfilou
sucessos empoeirados, de "Only a
Dream in Rio" (arriscando palavras em português) a "How Sweet
It Is", por cerca de uma hora.
O ponto alto, como previsto
desde 85, foi a imortal "You've
Got a Friend", com a platéia engatando um backing vocal gigante,
acordando até os deitados.
Perto de James Taylor, o show
do inglês Sting parecia heavy metal. Com uma banda grande, o ex-Police conseguiu compactar e dar
movimentação ao até então inerte
público. Entrando à 1h55, o cantor iniciou com "If You Love Somebody, Set them Free". Lembrança do ex-grupo só foi aparecer na sétima música, com "Every
Little Thing She Does Is Magic".
Texto Anterior: Primeira noite do festival foi "família" Próximo Texto: Papa Roach quer se consagrar como a revelação do festival Índice
|