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UM SONHO
"Do meu peito, saía bola de gude"
DO ENVIADO AO RIO
Enquanto fez parte do narcotráfico, LG evitava dormir à noite.
"Preferia descansar de dia. À noite, o perigo aumenta. Tinha medo
de cilada. Ainda que o sol estivesse brilhando, guardava a pistola
debaixo do travesseiro. Fechava
um olho de cada vez. Pensava que
podiam invadir a favela e me pegar durante o sono."
Nos encontros amorosos, tomava iguais precauções. "Era tudo rapidinho. "Oi. Chegue aqui.
Tchau." Não vacilava. Não gastava
horas na transa, distraído."
O vocalista conta que paranóias
desse tipo atormentam a vida de
outros traficantes. "Nenhum dorme em paz. Três, quatro horinhas,
e já saltam agitados da cama."
Se dormem, sonham. E o sonho
também não conforta. O cantor
recorda-se especialmente de um,
que costumava persegui-lo. "Os
policiais me encurralavam e mandavam chumbo. O tiro atingia o
coração. Eu passava a mão sobre a
ferida e parecia que pegava uma
bola de gude. Imagine só: do peito, tirava uma bolinha de gude.
Mas quando ia olhar a mão, não
havia nada."
Depois que LG deixou o crime,
o pesadelo recorrente nunca mais
se repetiu. "Se aquelas imagens
queriam dizer algo? Não sei direito." Ele tem apenas palpites. Talvez o sonho servisse para lembrá-lo de que, mesmo na guerra, os
meninos continuam meninos.
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