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Querem zombar de nosso título de cidadão
BARBARA GANCIA
Colunista da Folha
Na volta do Carnaval carioca encontrei em minha caixa-postal eletrônica a seguinte
mensagem, enviada pelo leitor
Mauro Celso M. de Alvarenga:
``Será que todo mundo bebeu e
só eu fiquei sóbrio? Estarão todos ainda sob o efeito do Momo? Li na Folha que o vereador Mohamad Said Mourad,
do PL, quer dar o título de cidadã paulistana à Lamia Maruf Hassan (a terrorista palestina expulsa de Israel). Já que é
assim, poderíamos, você e eu,
encabeçar a lista de assinaturas para dar títulos aos assassinos do bar Bodega, ao Lindomar Castilho e ao falso médico
Bruno Pascini. Topas?''
Apesar de compartilhar da
indignação do senhor Alvarenga, não topo.
Na época em que Lamia participou do complô para assassinar o soldado israelense, árabes e judeus estavam em guerra. E ela foi julgada como prisioneira de guerra. Recebeu a
pena de prisão perpétua por
ser um reles acessório do crime,
coisa que não ocorreu nem
mesmo em Nuremberg.
Eliminar um soldado inimigo durante uma missão é coisa
bem distinta de cometer latrocínio ou crime passional.
O que revolta o estômago
nessa história toda não é propriamente o crime cometido
por Lamia. Afinal, que eu saiba, ainda não inventaram
guerras sem baixas.
O que me ofende na condição
de cidadã paulistana, como
deve ofender profundamente à
comunidade israelita de São
Paulo, é saber que, por puro
oportunismo, políticos tentam
explorar a boa vontade de ingênuos ufanistas, que festejaram, de bandeira nacional em
punho, a volta de um dos nossos, como quem recebe algum
esportista brazuca que retorna
da Olimpíada com uma medalha no peito.
Pois já que é para agraciar
portadores de passaporte brasileiro que participaram de
conflitos ultramarinos, uso este espaço para reivindicar que
se conceda também o título de
cidadão paulistano a cada um
de nossos rapazes que está em
Angola neste exato momento,
integrando as tropas da ONU.
Todos os pracinhas que lutaram em Montecastelo também
devem ser condecorados e
-por que não?- meu pai também merece ser agraciado,
uma vez que, assim como Lamia, ele possui nacionalidade
brasileira, fala com sotaque,
participou de uma guerra (a
Segunda) e foi prisioneiro (dos
alemães).
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