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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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Acordo definirá destino de bares da Vila Madalena

DA REPORTAGEM LOCAL

Para a Vila Madalena (zona oeste), uma das áreas de exceção sobre as quais trabalha a equipe da prefeitura, discute-se tanto a liberação dos bares (pedida pelos donos dos estabelecimentos) como o fechamento obrigatório às 22h (reivindicação dos moradores).
Segundo Ivan Maglio, coordenador da equipe que elabora a minuta da nova lei de zoneamento, as partes incomodadas -proprietários de bares e moradores- deverão entrar em consenso no debate dos planos diretores regionais, atualmente em curso.
Caso isso não seja possível, será usado um instrumento previsto no Plano Diretor, o Acordo de Convivência, no qual as partes firmam, com mediação do Executivo, um documento com as normas específicas para o local.
O que impede a aplicação simples da nova lei na Vila Madalena é o fato de o quadrilátero repleto de barzinhos e boates ter a maioria de suas ruas classificadas como locais e só seis vias estruturais.
Nessas ruas, os estabelecimentos barulhentos poderiam ficar no futuro. Porém, hoje, eles estão em vias locais, muitas com pouco mais de sete metros de largura.
A aprovação da nova lei criaria um impasse: ou os barzinhos deixariam vias como a Purpurina e a Girassol -classificadas como locais pelo Plano Diretor- e arrumariam um novo endereço numa estrutural como a Cardeal Arcoverde ou teriam de se descaracterizar, tirando mesas da calçada e cortando o som, por exemplo.
Na discussão do plano regional da Subprefeitura de Pinheiros, um grupo de moradores apresentou a seguinte proposta: os bares poderiam ficar se fechassem às 22h. Hoje, varam a madrugada.
Os comerciantes preferem ver a Vila Madalena se transformar em um distrito diferente dos demais, onde eles seriam permitidos. "Situações como essa são a nossa dificuldade", diz Ivan Maglio.

Barulho e ameaça
As propostas e as denúncias dos moradores podem ser conferidas no site www.vilamadalenasolidaria.hpg.com.br. Poucos, hoje, aceitam aparecer. Eles se dizem ameaçados pelos donos de bares.
O engenheiro Marcos, 50, é um exemplo. O sobrado onde mora desde 1976 faz divisa, de um lado, com um bar especializado em roda de samba, e, de outro, com um restaurante. "Não me considero um chato que reclama de bêbado. Minha vida se desestruturou depois disso", afirma o engenheiro.
O grupo do qual Marcos faz parte fez um levantamento sobre o bairro, no ano passado. Eles listaram 150 bares, 9.000 domicílios e 25 mil moradores. Descobriram que a maioria dos estabelecimentos é irregular e se instalou na década de 90. "Eles querem passar a idéia de que são antigos", diz.
Vizinha de uma choperia e de um restaurante, a psicóloga Monika Vonkoss, 56, entrou com representação no Ministério Público, "apavorada" com a construção de mais um estabelecimento na rua Delfina, onde mora.
"É um conjunto de incômodos, som, carros, manobristas. Às vezes, você acorda de madrugada se perguntando: "De onde vem esse batuque?" Fora isso, é duro morar em um bairro que vira estacionamento depois das 18h", diz.


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