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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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BARBARA GANCIA

São Paulo tem o dever de ficar com Beira-Mar

Esse negócio de governar usando como base os resultados das pesquisas de opinião é uma das grandes armadilhas das democracias onde a reeleição faz parte do jogo. Governar implica em tomar decisões impopulares uma atrás da outra e justificar ações de governo alegando respeito à vontade popular, na maioria das vezes, não passa de oportunismo eleitoreiro.
Não, caro leitor. Se você chegou até aqui pensando que estamos falando sobre a guerra no Iraque, enganou-se -embora o argumento sobre decisões baseadas em pesquisas de opinião também sirva de luva para o ataque contra Saddam Hussein.
A nossa conversa de hoje versa sobre a pesquisa de opinião que o Planalto extra-oficialmente diz que o governador Alckmin encomendou, para saber se o paulista concorda ou não com a permanência de Fernandinho Beira-Mar em São Paulo.
Geraldo Alckmin nega que tenha mandado fazer a pesquisa, mas, segundo línguas soltas no Planalto, o tal estudo que não existe mostraria que 97% da população do Estado não quer que o traficante continue aqui.
Alô, governador Alckmin! Gostaria que o senhor soubesse que esta humilde datilógrafa que vos fala faz parte dos 3% que não se incomodam com a presença do criminoso entre nós. Muito ao contrário. Faço absoluta questão, caro governador, de que Fernandinho Beira-Mar continue bem trancadinho no Centro de Readaptação (faz-me rir!) Penitenciária de Presidente Bernardes.
Muito me admira o governador ser contrário à permanência de Beira-Mar em São Paulo. Ué? Geraldo Alckmin não é sempre o primeiro a falar grosso contra o crime quando está na frente das câmeras? Pois está na hora de São Paulo tomar uma atitude corajosa de verdade.
Entregar Beira-Mar aos americanos está fora de questão. Matá-lo sem querer querendo, como diria o Chaves, só iria nos colocar em pé de igualdade com a bandidagem. De que outras opções dispomos? Parece lógico instaurar um sistema de rodízio e ficar mandando o infeliz de lá para cá?
O crime organizado é um inimigo comum do país. Só um sistema integrado, que funcione na base da parceria, será capaz de intimidar essa gente. Temos de trabalhar juntos, de montar um sistema de informação em rede que cubra todos os Estados. E temos de poder contar com a opção de enviar o criminoso de um Estado para outro, a fim de desmembrar a organização y ou a facção x. É o mínimo que se pode esperar. E é só o começo.


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