São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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ENTREVISTA

Nova pesquisa nos EUA condena terapia de reposição hormonal

DA REPORTAGEM LOCAL

Nenhum outro tratamento na história da medicina foi tão idolatrado e, em seguida, tão questionado. Trata-se da terapia de reposição hormonal, a TRH, apresentada nos anos 60 como a "pílula da eterna juventude". Vários estudos recentes estão revelando que a terapia oferece mais riscos do que benefícios.
Na semana passada, o Instituto Nacional de Saúde dos EUA -o equivalente ao Ministério da Saúde no Brasil- interrompeu uma pesquisa com 11 mil mulheres acompanhadas desde 1997.
O estudo testava o estrógeno na prevenção de doenças cardiovasculares em pacientes na pós-menopausa. Os pesquisadores concluíram que, em lugar de proteger, colocava as pacientes em perigo: houve aumento de 40% no risco de derrame e nenhuma redução na probabilidade de infarto ou de câncer de mama.
Em 2002, o mesmo órgão americano determinou a interrupção de um estudo com 16 mil mulheres submetidas a outra reposição, uma combinação dos hormônios estrógeno e progesterona. Nesse caso, o comprimido aumentou a possibilidade de câncer de mama, infarto, derrame e trombose.
Outro estudo, da Sociedade Respiratória Européia, mostrou que a terapia aumentava em até 50% as chances de desenvolver asma. Uma quarta pesquisa revelou que a TRH não reduzia sequer o mau humor que acompanha as mulheres durante a menopausa.
O encerramento precoce do estudo americano coincidiu com a 7ª Conferência Internacional de Pesquisa da Soja realizada em Foz do Iguaçu na semana passada.
Uma das conferências finais tratou dos benefícios da soja na saúde dos seres humanos e, mais precisamente, na capacidade de reduzir os sintomas da menopausa.
De lá, vieram boas notícias. A médica nutróloga Esther Laudanna, assessora da Fugesp (Fundação para o Estudo da Nutrição e da Gastroenterologia), relatou pesquisa feita no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo mostrando que um isolado protéico da soja era tão eficaz no combate aos sintomas da menopausa quanto as TRHs clássicas.
"Foi o único estudo apresentado que tratava a soja por esse ângulo", disse Esther Laudanna, que participou do estudo. "Os sintomas como calores, nervosismo, melancolia, dores articulares, dores de cabeça, palpitação e angústia desapareceram como se as mulheres estivessem tomando a TRH clássica, e não foi registrado nenhum efeito colateral."
O produto testado na pesquisa foi um isolado protéico de soja desenvolvido numa parceria entre a Fugesp e pesquisadores da Esalq -Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, em Piracicaba (SP).
O produto foi testado em 98 mulheres saudáveis, com queixas dos sintomas da menopausa, e se estendeu por 16 semanas. Metade das mulheres tomou o isolado protéico em forma de alimento, as outras receberam um repositor hormonal em comprimido, bastante prescrito pelos médicos. "Os resultados foram surpreendentes", disse a médica Ângela de Maggio, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora da pesquisa no HC.
Abaixo, trechos da entrevista que concedeu à Folha:

 

Folha - A interrupção da pesquisa norte-americana surpreendeu?
Ângela de Maggio
- Esse estudo era um dos últimos braços de uma ampla pesquisa monitorada pelo governo dos Estados Unidos. Não foi uma boa notícia, mas eu faço questão de repetir: a hormonioterapia é excelente, mas deve ser individualizada. Cada mulher precisa de uma prescrição e um acompanhamento personalizados.

Folha - O isolado protéico pesquisado por sua equipe já está no mercado com o nome de Previna. Há outros estudos sendo conduzidos no seu departamento?
Maggio - Vários. Além dos fitoestrógenos presentes na soja, também estamos trabalhando com o trevo vermelho, planta que também produz fitohormônios. A julgar pelos bons resultados da primeira pesquisa, a soja aparece como uma alternativa que considero muito interessante.


Mais informações no site
www.estudosojamenopausa.com.br


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