São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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Mário de Andrade deve reabrir no 2º semestre deste ano

Biblioteca está fechada para reforma e restauro desde setembro de 2007; obras vão custar R$ 25 milhões

Todo o acervo em risco (210 mil exemplares) foi levado a uma câmara de extermínio de insetos, em um galpão na zona sul de São Paulo


Marcelo Justo/Folha Imagem
Funcionária encaixota acervo da biblioteca Mário de Andrade, que passa por desinfestação

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Os Demônios", do russo Fiódor Dostoievski, está de fato possuído por forças destrutivas. O livro é um dos cerca de 60 mil exemplares da biblioteca municipal Mário de Andrade, no centro de São Paulo, carcomidos por insetos. Outros 150 mil também estão sob risco. "A biblioteca chegou ao fundo do poço", afirma o secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil.
Fechada para reforma e restauro desde setembro de 2007 e com reabertura prevista para o segundo semestre deste ano, a biblioteca abrigava seus livros em salas sem ar-condicionado e com janelas abertas. Por ali, entraram cupins e brocas -espécie de besouro que perfura volumes de uma mesma prateleira, criando túnel contínuo.
Segundo o secretário, a biblioteca, projetada pelo francês Jacques Pilon, erguida em 1942 e hoje tombada, já demandava melhorias desde os anos 50. A demora, diz, ocorreu por conta de questões políticas e de falta de verba -a obra atual, no valor de R$ 25 milhões, está sendo paga com recursos da prefeitura e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Os insetos são atraídos pelas edições antigas, que usavam menos material químico e mais orgânico -eles se alimentam de amido, encontrado na cola de capas e lombadas, e de celulose, presente no papel.
De acordo com Stephan Schäfer, responsável pelo processo de desinfestação, a maior parte do acervo foi corroída por brocas, mais difíceis de combater. Segundo ele, diferentemente do cupim, as brocas não formam colônias concentradas, mas se espalham de forma difusa. A solução então foi levar todo o acervo em risco -210 mil exemplares, o equivalente a 10 km de livros enfileirados- para uma câmara de extermínio de insetos, em um galpão em Santo Amaro, zona sul.
O serviço tem início ainda na biblioteca, onde funcionárias espanam com pincéis página por página, livro por livro, retirando o pó e os insetos -que, às vezes, escondidos nos buracos que formam, são extraídos com pinça. Depois os volumes são embalados um a um, encaixotados e levados ao galpão.
O primeiro lote, de 70 mil volumes, já está guardado em uma espécie de bolha com baixa concentração de oxigênio, para que os bichos sejam asfixiados. Depois disso, mais dois lotes passarão pelo mesmo processo. Cada um deles fica reservado por cerca de um mês.
"Não é só uma desinfestação, é algo que ocorre no bojo de um processo de revitalização geral", afirma Calil, citando restauro, reforma e instalação do acervo em um prédio anexo.
O primeiro lote limpo, previsto para regressar à biblioteca em meados de abril, irá inaugurar o anexo, uma torre de 22 andares. Segundo Rafaela Bernardes, responsável pela obra, as salas terão ar-condicionado, janelas vedadas e com insulfilme, para proteger do sol.


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