Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem

Cachorros vigiam lugar na fila do Poupatempo, programa do governo de SP para retirada de documentos

RITA NAZARETH
da Reportagem Local

O paulistano que quer tirar documentos com rapidez precisa dormir em uma fila no centro da cidade, comprar senhas ou levar o cachorro para guardar seu lugar. É assim que está funcionando o Poupatempo, repartição criada em outubro do ano passado pelo governo do Estado para "agilizar e facilitar" a retirada de documentos. Saturado pelo grande número de pessoas que deixaram de tirar seus RGs nas delegacias da Polícia Civil -que exigem formulário e demoram cerca de 30 dias para entregar o documento-, o Poupatempo virou um "gastatempo". Mesmo que o atendimento seja feito das 7h às 19h, os portões são abertos às 5h da manhã. "Criamos um esquema de distribuição de senhas só para quem vai tirar a carteira de identidade", diz o assessor da superintendência do Poupatempo, Daniel Annenberg. As senhas são distribuídas às 6h. Para garantir uma senha, há quem chega no dia anterior e acaba passando a noite sentado no muro do Poupatempo. Alguns esperam dez horas na fila. "Preciso do RG para arrumar um emprego", diz o motorista Silvio Dias Machado, 38. "Não posso esperar mais tempo." Machado, assim como o vendedor Agnaldo Autori, 42, foi um dos primeiros a chegar ontem na fila do Poupatempo. "Chegamos às 22h (de anteontem)", diz Autuori. O vendedor conta que pediu folga de seu emprego, deixou a mulher preocupada em casa e decidiu marcar seu lugar na fila. "Consegui o primeiro lugar ", diz o vendedor. "Com isso, estou ajudando o governo a desrespeitar mais ainda o povo." Embora tenha passado a noite inteira na fila, Autuori diz que não conseguiu pegar no sono. "Com toda essa fama de criminalidade da região, qualquer barulho assusta", diz. "E teve gente que nem passou por isso e está aqui, nos primeiros lugares da fila." Autuori se referia à venda de lugares, feita por moradores de ruas e prostitutas que ficam na região.