São Paulo, Domingo, 14 de Março de 1999
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SAÚDE
Psiquiatras investigam formas de tratar distúrbio patológico que impede alguém de enfrentar medos banais
Estudo vai pesquisar combate
à fobia social

NOELLY RUSSO
da Reportagem Local

Ter medo de barata é normal? E não gostar de falar em público? Se o medo de ver uma barata impede a pessoa de sair de casa ou se o pavor de escrever evita preencher um cheque, o medo não é normal.
Uma das hipóteses é que se trate de um portador de fobia social, um distúrbio afetivo que faz com que seu portador se esquive das situações que teme ou as enfrente com muita dificuldade.
Pouco conhecido no Brasil, esse transtorno psiquiátrico vai ser estudado no Amban (Ambulatório da Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do HC da USP) em um projeto que começou este mês.
"Além de melhorar o diagnóstico e de poder melhorar o conhecimento sobre a fobia social, vamos estudar a melhor forma de tratamento da doença, com remédios, com psicoterapia ou com a combinação dos dois", diz Tito Paes de Barros Neto, psiquiatra e pesquisador do Amban.
Pesquisa realizada pelo instituto mostra que 46% da população da cidade de São Paulo tem algum tipo de transtorno mental. A fobia social representa 3,5% do total.
O psiquiatra Barros Neto alerta para o risco de confundir a fobia com timidez, com ansiedade ou com o desconforto natural que cada um tem em relação a algumas situações.
Segundo o psiquiatra Márcio Bernik, diretor do Amban, o projeto sobre fobia social vai ampliar a eficácia de medicamentos e a avaliação dos efeitos da psicoterapia.
"Sabe-se que o medicamento funciona. Também sabe-se que a psicoterapia é outra forma de tratar o problema. Com o projeto vamos poder comparar a eficiência dos dois tratamentos, separadamente e combinados", diz ele.
Para realizar a pesquisa, foram formados quatro grupos de pacientes, cada um com 30 pessoas.
Um deles vai receber apenas o tratamento com remédios, os antidepressivos são os medicamentos usados no combate à síndrome.
A psicoterapia inclui um treinamento para preparar o fóbico para enfrentar as situações que teme.
"Por exemplo, uma pessoa com medo de preencher cheques começa no consultório com uma palavrinha. Depois, a pessoa assina um cheque. Vou instruí-la a assinar cheques de valores baixos até se acostumar", diz Barros Neto.
Os resultados da pesquisa vão ser conhecidos em cerca de um ano.


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