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NARCOTRÁFICO
Tripulantes que saem do porto de Santos embarcam até 50 kg de cocaína para a Europa, diz CPI
"Exportação" de droga é investigada
Flávio Florido/Folha Imagem
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O deputado Torgan (esq.) acompanha o agenciador de 'mulas' Edésio Vieito na sessão da CPI |
ALESSANDRO SILVA
SÍLVIA CORRÊA
SORAYA AGÉGE
da Reportagem Local
A CPI do Narcotráfico da Câmara
dos Deputados
confirmou ontem
que parte da droga
que entra no Brasil
é escoada para a Europa a partir
do porto de Santos, no litoral de
São Paulo, embarcada possivelmente com colaboração de funcionários da Receita Federal.
Ontem, o vendedor de carros
Edésio Queija Vieito confirmou
aos parlamentares que agenciava
"mulas" -pessoas que transportam a droga- para o traficante
Jurandir Henrique de Assis, foragido e convocado para depor pelo
comissão.
O porto é considerado pelos deputados como um braço da conexão Colômbia-Suriname, que
passa também pelo Pará e está
sendo investigada desde anteontem a partir do depoimento do
mecânico J.R.P..
"Ele disse que colaboravam passageiros e funcionários do baixo
escalão dos navios. Não citou donos de embarcações ou comandantes", disse o deputado federal
Robson Tuma (PFL-SP).
"Segundo ele, cada tripulante
do esquema embarcava com até
50 kg de droga", completou o deputado Moroni Torgan (PFL-CE),
relator da comissão.
O depoimento do vendedor foi
reservado. Ele tentou mentir, caiu
em contradição e aceitou falar em
separado depois de admitir que
tinha medo de morrer.
Vieito foi descrito pelos deputados como um despachante do tráfico: contratava as "mulas", pagava e "exportava" a droga.
"É um esquema e que conta
com a ajuda de fiscais da Receita
Federal", disse o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS).
De acordo com os deputados,
diligências foram feitas em Santos
na tarde de ontem pela Polícia Federal a partir de informações dadas por Vieito e pelo traficante
que depôs logo após ele, também
em sessão fechada (leia ao lado).
Os parlamentares não divulgaram os locais visitados nem os
materiais apreendidos. Neles, porém, de acordo com Moroni Torgan, a CPI pôde constatar a omissão da Receita Federal.
"Há omissão na fiscalização,
pois uns navios são mais fiscalizados que outros. Ainda não sabemos se a omissão é dolosa, conivente. O que posso dizer é que,
coincidência ou não, os navios
que são menos fiscalizados são
exatamente os que carregam a
droga", disse o deputado.
Em uma das remessas, de acordo com a CPI, os traficantes enviaram cerca de 200 kg de cocaína
para a Espanha. Na Europa, a droga é vendida bem acima do preço
cobrado na América Latina.
A CPI tem uma lista com datas
de remessas, quantidade e destino, reunida pela PF, com a ajuda
das polícias de outros países.
Segundo a CPI, o porto envia
drogas e recebe armas da Europa,
que acabam redistribuídas dentro
do país ou pagam a cocaína. As
drogas viriam da Colômbia. O Suriname seria outro fornecedor de
armamentos (leia texto ao lado).
"O dinheiro das armas alimenta
o tráfico, que depois incrementa
todo o esquema", disse Torgan,
ao explicar o financiamento do
crime organizado. As armas são
trocadas por drogas e vice-versa.
O caminho Colômbia-Suriname chegou a ser batizado de conexão Filipinas, em razão da nacionalidade das pessoas que seriam
usadas no esquema de transporte.
Às 19h de ontem, a CPI começou a ouvir o superintendente da
Receita Federal em São Paulo, Flávio Del Comuni, sobre o rota de
exportação descoberta no porto
de Santos e as falhas de fiscalização do órgão que comanda.
Del Comuni está sendo investigado pela PF por envolvimento
em esquema de fraudes, favorecimento ao contrabando e arrecadação de propinas para financiamento de campanhas políticas. A
investigação segue em segredo. Já
foi pedida a quebra de sigilo fiscal,
telefônico e bancário dele.
O inquérito nº 2-1012/99 foi
aberto em junho do ano passado
com base em um dossiê recebido
pelo Ministério Público Federal.
Os deputados afirmam contar
com lista de possíveis chefes do
esquema em Santos, entre os
quais figuraria o nome do superintendente. A CPI pretende rastrear a vida financeira dos citados,
mas não vai revelar seus nomes.
O porto de Santos é o segundo
investigado pela comissão. O primeiro foi o de Paranaguá (PR). O
esquema no Paraná, porém, é diferente, segundo a comissão. As
armas chegam de Miami (EUA),
desembarcam em contêineres e
são despachados em caminhões
para o Paraguai. Depois, é que o
armamento volta, trocado com
traficantes brasileiros por drogas.
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