São Paulo, sábado, 14 de abril de 2001

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SISTEMA PRISIONAL
Presos libertaram 14 pessoas, entre elas um bebê de 2 meses; negociações foram suspensas ontem à noite

150 continuam reféns em prisão de Cuiabá

Maurício Barbant/Midianews
Helicóptero sobrevoa penitenciária de Carumbé, em Cuiabá, onde 356 detentos se amotinaram


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E DA AGÊNCIA FOLHA

A rebelião na Penitenciária Regional do Carumbé, em Cuiabá, completou ontem, às 21h, 30 horas sem solução. As negociações foram suspensas por volta das 20h30. Os 356 presos mantinham 150 pessoas como reféns.
Dez mulheres e quatro crianças, entre elas um bebê de dois meses, foram libertados no início da noite de ontem. Não havia registro de feridos ou mortos. Os presidiários estavam armados apenas com estiletes improvisados.
Cerca de 150 policiais do Comando de Inteligência e Operações Especiais (CIOE), a tropa de elite da Polícia Militar do Mato Grosso, cercavam o presídio, mas não havia a intenção de invadir. "Vamos negociar até o fim", disse o porta-voz da Polícia Militar, tenente Nivaldo José.
O número oficial de reféns só foi confirmado no início da noite de ontem pelo tenente. Com exceção de quatro agentes penitenciários, todos os reféns (97 mulheres, 42 crianças e 7 homens) são parentes dos detentos que entraram anteontem no presídio para visitar os presos.
De acordo com o deputado Gilney Viana (PT), membro da comissão de negociação, o clima ontem à tarde era de tensão dentro do presídio, mas os reféns passavam bem.
A comissão de negociação aceitou instaurar um procedimento administrativo para apurar as denúncias de maus-tratos feitas pelos presos, mas os rebelados insistem nas exonerações do diretor do presídio, Elpídio Onofre Claro, no cargo há menos de três meses, e do major Osmar Farias, comandante do Batalhão da Guarda.
Onofre Claro teria retirado benefícios dos presos e é acusado de corrupção e maus-tratos.
A Agência não conseguiu falar com o diretor ontem. Em entrevista a uma TV local pela manhã, o diretor disse que apenas "cumpre a lei".
Além de Viana, integram a comissão o coronel Antonio Moraes, negociador da PM, e o coronel José Bento Martins, coordenador do sistema penitenciário do Estado.
No final da tarde, as autoridades de Segurança permitiram a entrada de água e comida no presídio, como um gesto de boa vontade para colocar fim à rebelião no local. Mas os presos responderam com a ampliação da lista de reivindicações, que já incluía a revisão de penas.
No início da rebelião, a polícia tinha cortado água, luz e comida dos presos. Isso não impediu que os internos realizassem por volta das 13h de ontem, em plena Sexta-Feira Santa, um churrasco.

Seguro
À tarde, 29 detentos foram retirados pelos policiais por cima do muro do presídio e levados para um local não informado. Eles estavam na ala do "seguro" (onde ficam os presos que são ameaçados de morte), que não foi atingida pela rebelião.
Viana, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, disse que dez presos lideram a revolta. Entre eles estaria João Carlos Nascimento, o JC, integrante da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), que comandou a megarrebelião em São Paulo em fevereiro. JC está em Cuiabá desde agosto do ano passado, quando foi transferido da penitenciária de Piraquara (PR).
"Vamos levar as denúncias ao conhecimento dos demais deputados na sessão da próxima terça-feira e encaminhar um requerimento de providências às secretarias de Segurança e de Justiça e ao juiz da Vara de Execuções Penais para que sejam apuradas de acordo com a lei", informou Viana.

Exigências
Diante das exigências feitas pelos detentos rebelados, o secretário de Justiça, Hermes de Abreu, afirma que o movimento tem caráter essencialmente político. "O que eles querem mesmo é manter o presídio sob controle afastando o seu diretor e o comandante do Batalhão da Guarda", afirmou o secretário.


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