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SAÚDE
Campanha combate uso abusivo da voz
AURELIANO BIANCARELLI
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Olha a maçã! Vai levar freguesa?" O feirante José Fernando
Lombardo, 39, vive do grito desde
os nove anos de idade, quando
começou a trabalhar em feiras livres em São Paulo.
Lombardo, conhecido como
"Papagaio" entre os colegas por
falar muito, tem a voz rouca há
muitos anos por causa do esforço
diário. "A propaganda faz parte
do negócio. Não posso parar."
A voz é um instrumento de trabalho para milhões -estima-se
que 40% da população ativa a utilize na atividade profissional.
A Sociedade Brasileira de Laringologia e Voz criou, com o apoio
de outras entidades, uma campanha para alertar todos esses profissionais no próximo dia 16, Dia
Nacional da Voz. São professores,
feirantes, operadores de telemarketing, advogados e, claro, cantores, alguns dos que mais correm
riscos de ter problemas vocais por
causa do uso excessivo que fazem
desse instrumento.
As pregas vocais (o termo cordas vocais é incorreto) são o principal componente do aparato que
produz a voz. Quem fala muito, ri
alto, grita e força a voz em excesso
pode danificar as pregas.
O fumo agrava o quadro por irritar as mucosas dessas estruturas. O estresse é ruim porque tenciona a musculatura da laringe.
Mudanças bruscas de temperatura também são prejudiciais, assim
como o álcool.
O abuso da voz pode causar nódulos ("calos") a longo prazo, o
problema mais comum. Inflamações e úlceras também podem
acometer as pregas em razão do
mau uso da voz.
Qualquer alteração por mais de
duas semanas, como rouquidão, é
motivo para visita ao otorrinolaringologista. Quando o médico
detecta um problema, o fonoaudiólogo auxilia no tratamento.
"A maioria dos casos é resolvida
com reeducação da voz por meio
de exercícios prescritos e orientados pelo fonoaudiólogo", diz o
presidente da Sociedade Brasileira de Laringologia e Voz, José Antonio Pinto.
Estima-se nos EUA que 7,5 milhões de pessoas tenham dificuldade para usar a voz. No Brasil, o
estudo mais citado por especialistas foi realizado no ano passado
por fonoaudiólogos com 422 professores da rede pública municipal de São Paulo -60% apresentavam alterações na voz.
Calcula-se que os prejuízos com
afastamentos do trabalho e readaptações por problemas de voz
cheguem a R$ 100 milhões anuais.
"As disfonias [alterações de
voz] ainda não são reconhecidas
como doenças decorrentes do trabalho", diz a presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, Leslie Biccolotto Ferreira. Segundo ela, não há parâmetros para avaliar casos de alterações na
voz de profissionais que a utilizam como instrumento de trabalho. Otorrinos, fonos e médicos
do trabalho estarão reunidos entre os dias 10 e 11 de maio no Rio
para a elaboração de um consenso de voz profissional. Uma das
intenções é justamente o reconhecimento das disfonias como
doenças do trabalho.
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