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VIOLÊNCIA
Um mês após o assassinato em Presidente Prudente (SP), polícia paulista ainda tem dúvidas sobre o mandante do crime
Motivo da morte de juiz segue desconhecido
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mês após o assassinato do
juiz-corregedor de Presidente
Prudente (interior de São Paulo),
Antonio José Machado Dias, 47, a
Polícia Civil do Estado ainda desconhece o motivo do crime e não
arrisca apontar oficialmente
quem ordenou a ação, apesar de
ter identificado todos os envolvidos na emboscada.
Pelo que se descobriu até agora,
o plano para matar o magistrado
foi preparado nos mínimos detalhes, financiado e executado por
traficantes da capital que podem
ter ligação com o PCC (Primeiro
Comando da Capital) e que fazem
negócios com o grupo do traficante Luiz Fernando da Costa, o
Fernandinho Beira-Mar, parceiro
do Comando Vermelho do Rio.
""Identificar os autores foi o primeiro passo. O segundo é a prisão
deles. A partir daí chegaremos ao
mandante e ao motivo", afirma o
delegado Armindo Aparecido
Miguel, 48, do DHPP (departamento de homicídios), responsável pela investigação.
Das cinco pessoas acusadas pela
polícia, quatro estão foragidas, incluindo os três homens que teriam assassinado o juiz. No início
da noite do dia 14 de março, uma
sexta-feira, um Uno fechou o carro do magistrado perto do fórum
de Presidente Prudente, no centro
da cidade. Dias levou três tiros de
pistola e morreu na hora.
Como corregedor, era ele quem
analisava pedidos de benefícios
de presos e fiscalizava o cumprimento de pena em sete penitenciárias da região, onde está construído o principal símbolo de repressão ao PCC: o CRP (Centro de
Readaptação Penitenciária) de
Presidente Bernardes (589 km de
SP), uma unidade com severa disciplina e restrição de direitos, como o de receber visitas íntimas,
que, na época do crime, abrigava
provisoriamente Beira-Mar.
Veja a seguir como a quadrilha
executou o assassinato do juiz
Antonio José Machado Dias:
O carro
O instalador de telefones Cristian Ângelo trabalhava na capital
paulista com um Fiat Uno de uma
locadora de veículos. No último
dia 4 de fevereiro, ele entrou em
uma delegacia de São Paulo e registrou o roubo do carro. De acordo com seu depoimento aos policiais, três homens o teriam cercado na rua e levado o Uno.
Na verdade, segundo a polícia
descobriu mais tarde, o instalador
vendeu o carro, que não era seu,
para o traficante João Carlos Rangel Luisi, o Jonny, dono de um suposto ponto de venda de drogas
em um bar da zona leste.
Ângelo não está preso, mas responde pelo sumiço do carro.
Jonny iria vender o Uno para
um desmanche, de acordo com o
que declarou à polícia, por cerca
de R$ 400, em um negócio classificado pelos investigadores do
DHPP como ""bico" eventual.
O plano mudou porque outro
traficante, Adilson Daghia, 34, conhecido como Di, pediu o carro e
pagou o que o desmanche prometera. Para a polícia, Di fornecia
drogas para Jonny.
Uno "legalizado"
Daghia está foragido desde março de 2001, quando desapareceu
de modo misterioso do Hospital
Penitenciário, no Carandiru, na
zona norte da capital. A fuga, porém, só foi percebida cinco meses
depois. Apesar dos negócios que
mantém em São Paulo, o nome
dele aparece no organograma da
quadrilha de Beira-Mar, feito pela
polícia do Rio, na função de distribuidor de droga.
Juntos, Daghia e Jonny contrataram um estelionatário conhecido na região, também foragido da
Justiça, para fazer documento,
mudar o chassi do Uno, vidros
com a nova numeração e, principalmente, placas de Presidente
Prudente para não despertar a
atenção da polícia na cidade onde
o juiz seria morto. Jairo César da
Silva, com dez anos de prisão para
cumprir, gasta pelo menos uma
semana para ""legalizar" o carro.
""Se o Uno fosse parado em um
bloqueio, caso os policiais não tivessem bem preparados, passava", afirma o investigador-chefe
do DHPP, Carlos Eduardo Montez, 42, ao avaliar a falsificação
que foi feita pelo grupo.
Planejamento
Não se sabe ao certo ainda como
a quadrilha reuniu informações
sobre a vida e horários do juiz-corregedor, tampouco se monitoraram os passos dele na cidade.
No dia do crime, o magistrado
estava sem escolta. Liberou os policiais, segundo o Tribunal de Justiça, por conta própria por achar
que não corria perigo.
Daghia reuniu dois ajudantes
para o plano: o traficante Reinaldo Teixeira dos Santos, 24, o Funchal, e o sequestrador Ronaldo
Dias, 26, o Chocolate, amigos de
infância na favela Vietnã (zona
norte de São Paulo).
Dois dias antes do assassinato,
Daghia e Funchal se hospedaram
em um hotel em Regente Feijó,
município perto de Presidente
Prudente. Disseram estar à procura de uma casa no interior, pois
estavam cansados da correria da
capital, segundo moradores ouvidos pelo DHPP. Usaram uma garota de programa como guia para
conhecer o fórum sem despertar a
atenção da polícia.
Na véspera da ação, chegou o
último integrante da quadrilha,
Chocolate, com o Uno preparado
pelo estelionatário. Os três foram
vistos tomando cerveja em um
bar próximo do hotel.
Entre 16h30 e 17h do dia 14 de
março, o grupo saiu de Regente
Feijó em dois carros. Assassinaram o juiz a tiros, abandonaram o
Uno na cidade e fugiram em um
segundo carro -um Gol.
Jonny teria sido avisado depois,
por volta das meia-noite, de que
precisava ir até Sorocaba pegar
Funchal, que havia sido deixado
para trás como despiste.
Na madrugada do dia 15, um sábado, de acordo com o DHPP, estavam em um barraco na favela
Vietnã fumando maconha e vendo pela TV reportagens sobre o
assassinato do juiz-corregedor.
Daghia e sua mulher, Viviane
Alves de Campos Melo, Funchal,
Chocolate, e o estelionatário Silva
estão foragidos desde então.
Jonny e Liliane Dias Nunes, namorada de Funchal, que estão
presos, disseram à polícia que não
sabiam do plano para matar o
juiz. Ficaram sabendo depois.
Não revelaram o nome do mandante nem o motivo do crime.
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