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Morador evita celebridade da crise
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
"Ontem, liguei para o meu irmão no Ceará e ele falou: "Teu bar
tá famoso hein?". Aí eu falei: "Não
quero essa fama, não"."
O diálogo, relatado por um dos
funcionários de uma lanchonete
instalada na esquina da principal
entrada da Rocinha, na via Ápia,
reflete bem o que os moradores
têm vivido nos últimos dias.
Ontem de manhã, podiam-se
contar 13 carros de reportagem
parados na entrada da favela. Entre os jornalistas, havia desde repórteres dos jornais da cidade até
correspondentes europeus e norte-americanos.
"Já fiz algumas coberturas assustadoras, como a do Carnaval,
mas essa é a pior de todas", disse a
jornalista portuguesa Susana Mota, 26, da TVI. "Para nós é muito
assustador, a gente só assiste a essas coisas quando é enviado para
a guerra do Iraque, mas aí já estamos preparados", afirmou Mota,
que mora no Brasil há dois anos e
no Rio desde janeiro.
Susto por susto, os moradores
também estão assustados, pela
presença da polícia, dos traficantes e da mídia.
"Sai, sai, pra não aparecer", ordenou Maria de Fátima, 35, às
suas duas filhas, de sete e de dez
anos. As crianças estavam perto
de uma aglomeração formada por
cinegrafistas e fotógrafos para registrar o abraço de uma outra
criança a um dos comandantes da
operação da PM (Polícia Militar)
na favela da Rocinha.
Questionada sobre o motivo para o temor das lentes, a mãe, dona-de-casa e moradora da favela
há 16 anos, explica, apontando
para o alto da favela: "Não é medo
não, é para preservar a minha família, que mora lá dentro".
Mas nem todos têm medo das
câmeras fotográficas e de vídeo.
Apresentando-se como "Rick Cabeleireiros", Luiz Carlos Henrique, 40, interrompeu entrevista
do comandante-geral da PM, Renato Hottz, para cobrar a demora
no reforço da segurança do local.
Quando o oficial estava cercado
por câmeras, Rick aproximou-se
por trás, puxou Hottz e começou
a falar, sem parar. Depois, questionado pela Folha se tinha motivações eleitorais, afirmou, falando de si mesmo em terceira pessoa: "O Rick não é político, ele é
polêmico, ele é a voz da sociedade".
(PEDRO DIAS LEITE)
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