São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004

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Morador evita celebridade da crise

DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

"Ontem, liguei para o meu irmão no Ceará e ele falou: "Teu bar tá famoso hein?". Aí eu falei: "Não quero essa fama, não"."
O diálogo, relatado por um dos funcionários de uma lanchonete instalada na esquina da principal entrada da Rocinha, na via Ápia, reflete bem o que os moradores têm vivido nos últimos dias.
Ontem de manhã, podiam-se contar 13 carros de reportagem parados na entrada da favela. Entre os jornalistas, havia desde repórteres dos jornais da cidade até correspondentes europeus e norte-americanos.
"Já fiz algumas coberturas assustadoras, como a do Carnaval, mas essa é a pior de todas", disse a jornalista portuguesa Susana Mota, 26, da TVI. "Para nós é muito assustador, a gente só assiste a essas coisas quando é enviado para a guerra do Iraque, mas aí já estamos preparados", afirmou Mota, que mora no Brasil há dois anos e no Rio desde janeiro.
Susto por susto, os moradores também estão assustados, pela presença da polícia, dos traficantes e da mídia.
"Sai, sai, pra não aparecer", ordenou Maria de Fátima, 35, às suas duas filhas, de sete e de dez anos. As crianças estavam perto de uma aglomeração formada por cinegrafistas e fotógrafos para registrar o abraço de uma outra criança a um dos comandantes da operação da PM (Polícia Militar) na favela da Rocinha.
Questionada sobre o motivo para o temor das lentes, a mãe, dona-de-casa e moradora da favela há 16 anos, explica, apontando para o alto da favela: "Não é medo não, é para preservar a minha família, que mora lá dentro".
Mas nem todos têm medo das câmeras fotográficas e de vídeo. Apresentando-se como "Rick Cabeleireiros", Luiz Carlos Henrique, 40, interrompeu entrevista do comandante-geral da PM, Renato Hottz, para cobrar a demora no reforço da segurança do local.
Quando o oficial estava cercado por câmeras, Rick aproximou-se por trás, puxou Hottz e começou a falar, sem parar. Depois, questionado pela Folha se tinha motivações eleitorais, afirmou, falando de si mesmo em terceira pessoa: "O Rick não é político, ele é polêmico, ele é a voz da sociedade". (PEDRO DIAS LEITE)


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