São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2001

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VIOLÊNCIA

Menores são os autores da maioria desses crimes; zona leste da cidade é a que tem maior número de ocorrências

Roubos a ônibus aumentam 9,5% em São Paulo

PAULO ROBERTO LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os roubos a ônibus na cidade de São Paulo aumentaram 9,5% no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2000.
Trata-se de um delito cujos autores são quase exclusivamente menores de idade. "São jovens iniciantes no roubo", afirma José Peres Netto, estatístico e pesquisador do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.
Ao analisar levantamento feito pelo SPTrans (órgão responsável pelo gerenciamento do transporte coletivo), Netto verificou que os registros desse tipo de ocorrência estão concentrados em distritos policiais da zona leste.
O 50º DP, que fica no bairro de Itaim Paulista e abrange uma população de aproximadamente 300 mil pessoas, apresentou o maior número de roubos, 174.
Com revólver de verdade ou de brinquedo ou simulando estar com algo que possa causar ferimento, como faca de cozinha, os menores obtêm por roubo uma média de R$ 50, incluindo vales-transporte, que costumam representar mais de 50% desse valor.
Esses adolescentes são os principais fornecedores do mercado de vale-transporte roubado, cujo valor de face é R$ 1,15 e é vendido na faixa de R$ 0,90 a R$ 1.
"Eles [os adolescentes" acham que vão ficar impunes", afirma Roberto Krasovic, delegado titular do 50º DP. Como exemplo, ele cita o caso do rapaz que ficava tomando cerveja em um bar à espera do ônibus para roubá-lo. "Após o roubo, ele voltava para a cerveja", segundo o delegado. As vítimas são, em sua maioria, os cobradores. "Poucos passageiros são assaltados", diz Krasovic.
O 75º DP (Jardim Arpoador, zona oeste) apresentou o segundo maior número de ocorrências do primeiro trimestre, 128.
Para o delegado Archimedes Cação Veras Júnior, titular do distrito, o roubo a ônibus, mais do que qualquer outro tipo de delito, "é um problema social". A área do DP tem 160 mil pessoas, moradoras de bairros pobres e de favelas. Ele atribui o número de ocorrências, em parte, ao fato de o distrito estar perto de uma garagem de ônibus. "Com isso, há mais facilidade para o registro dos roubos."
Para o pesquisador Netto, "se o Infocrim [sistema informatizado das ocorrências policiais com terminais instalados nas delegacias" estivesse funcionando ou sendo utilizado não estaria havendo agora esse aumento de assaltos a ônibus". "São crimes repetitivos, que acontecem com maior frequência em determinados locais, dias e horários."
Ele não entende como pôde passar despercebido para os policiais do 69º DP (Teotônio Vilela, zona leste) no ano passado o fato de dois terços dos roubos a coletivos terem acontecidos em um trecho da avenida Sapopemba entre os números 10.000 e 15.000.
No primeiro trimestre deste ano, a avenida Sapopemba continuou sendo um dos locais onde mais ocorreram roubo a ônibus. Em fevereiro, por exemplo, dos 56 casos registrados no 69º DP, 25 aconteceram naquele local. Netto teme que a violência nos ônibus volte ao patamar de 1999 -2.794 casos no primeiro trimestre.
Antonio Sampaio Amaral Filho, diretor jurídico do Transurb (sindicato das empresas), diz estar preocupado com a segurança dos usuários. Chama-lhe a atenção a tendência, "ainda que tênue", de a Justiça responsabilizar as empresas pelo que possa acontecer com passageiros em casos de violência.


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