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ÔNIBUS
Prefeita, que prometeu 400 km de vias com prioridade para o transporte coletivo, terminará o mandato com 249,2 km
Corredor é elogiado, mas não atinge meta
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim como a implantação do
bilhete único, a ampliação de corredores de ônibus em São Paulo é
uma bandeira de campanha da
prefeita Marta Suplicy (PT) para
as eleições deste ano. Essas obras
foram, na opinião de especialistas, uma decisão acertada da prefeitura, por ser um modo mais barato de priorização do transporte
coletivo -embora eles apontem
falhas e problemas pontuais.
Novamente, entretanto, a gestão petista prometeu demais -e
as realizações, embora positivas,
ficarão aquém do anunciado.
O ex-prefeito Celso Pitta deixou
a capital paulista com 99,65 km de
vias com algum tipo de prioridade aos ônibus -sendo 59,7 km
com pistas exclusivas ou segregadas. Marta prometia que essas
avenidas chegariam a 400 km no
final de 2004: vai terminar seu
mandato com 249,2 km -sendo
110 km de pistas exclusivas ou segregadas aos coletivos.
Nesse balanço estão corredores
com faixas preferenciais à direita
para os ônibus, como na avenida
Aricanduva e rua Teodoro Sampaio, batizados de Via Livre, e
com faixas à esquerda, como na ligação São João/Lapa/Pirituba, conhecidos por Passa-Rápido.
O primeiro tipo é uma alternativa de mais baixo custo, sem grandes investimentos em tecnologia
-com pintura do asfalto, colocação de gradis de segurança e revisão dos semáforos para priorizar
a passagem dos ônibus. O segundo tipo abrange os corredores exclusivos mais elogiados, com fiscalização fotográfica dos carros
que invadirem as faixas e até monitoramento por satélite.
Às vésperas das eleições, Marta
entregará os Passa-Rápido da
Francisco Morato/Rebouças/
Consolação, Rio Bonito, Guarapiranga e Ibirapuera -além da reforma do Nove de Julho/Santo
Amaro, Inajar de Souza/Rio
Branco e Itapecerica/João Dias.
Jaime Waisman, professor da
USP, afirma que a construção de
corredores exclusivos é uma maneira de tentar aproximar as características dos ônibus às da rede
metroviária. "Numa via segregada, isolada, sem sofrer efeito dos
meios externos", diz, "os coletivos
desenvolvem maior velocidade e
melhoram sua eficiência".
O consultor Ademir Venancio
de Araujo, ex-diretor do Metrô,
explica que as faixas à esquerda
são as melhores para esse objetivo
porque nas da direita "circulam as
paradas de táxis, de carga, descarga e muitas conversões". Ele ressalta que os acessos a portadores
de deficiência também são facilitados -porque a entrada no veículo se dá no nível da plataforma.
Trata-se de uma maneira de beneficiar a população que se desloca de transporte coletivo, mesmo
que em detrimento dos automóveis, responsáveis por mais prejuízos sociais, como congestionamentos, poluição e acidentes.
Os gastos da prefeitura com a
ampliação dos corredores, a construção de terminais e a implantação do bilhete único beiram R$ 1,5
bilhão, dinheiro que não daria
nem para construir uma linha de
metrô como a 5-lilás (Capão Redondo-Largo Treze), de 9,4 km.
"É bem menos arriscado quanto ao insucesso do que alternativas custosas como a do Fura-Fila.
O que se busca é atrair os usuários
do transporte individual", diz Nicolau Gualda, também da USP.
Waisman é categórico sobre as
conseqüências para os autos. "É
evidente, sem dúvida nenhuma,
que vai ser retirado espaço dos
carros. Eles serão prejudicados,
mas é uma medida socialmente
justa. Não dá para todo mundo
sair ganhando", afirma.
Getúlio Hanashiro, que foi secretário dos Transportes na gestão Pitta, também avalia a ampliação dos corredores como positiva,
mas diz que não se trata de algo
novo -afirma que os recursos ao
BNDES foram pedidos no governo anterior. O erro, para ele, foi a
"implantação física, deixando
acumular as obras". "Foi um misto de incompetência e caráter
eleitoreiro", afirma Hanashiro,
que também questiona a priorização de reforma do corredor
Nove de Julho ("poderia ser numa segunda fase") e prevê risco a
pedestres caso não haja implantação adequada de travessias.
O consultor Luiz Célio Bottura,
ex-presidente da Dersa, diz que as
intervenções urbanísticas "vão
melhorar" a situação atual de degradação dos imóveis no entorno
das grandes avenidas ou, "no mínimo, vão deixá-la menos ruim".
Ele também se preocupa com os
atropelamentos por não haver
gradis ou estruturas físicas de separação dos corredores.
Bottura diverge de Waisman.
"Os carros terão melhor condição
de fluidez. Nas faixas que sobrarem para eles não haverá obstáculos, não haverá competição
com os ônibus", afirma, ressalvando que não se pode permitir a
presença dos coletivos tanto na
pista da esquerda como na da direita, como acontece atualmente
em trechos do corredor São
João/Lapa/Pirituba.
(AI)
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