São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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Facção promove 63 atentados em 24 horas

Ataques ocorreram em 23 cidades e houve até morte de civil; Marcola, líder do PCC, é transferido para presídio de segurança máxima

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Facção criminosa que já foi chamada de "organização falida" pela polícia paulista, o PCC (Primeiro Comando da Capital) precisou de 24 horas, entre a noite de anteontem e a de ontem, para promover pelo menos 63 atentados no Estado de São Paulo, segundo dados preliminares da Secretaria da Segurança Pública.
Os ataques ocorreram em pelo menos 23 cidades paulistas. Bases da Polícia Militar e da Guarda Civil, carros da polícia e agentes de folga foram alvo dos criminosos, que usaram metralhadoras, pistolas e bombas caseiras.
Os atentados começaram na noite de sexta-feira, logo depois da transferência do líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, para a sede do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), na capital paulista. O último ataque ocorreu por volta das 19h de ontem, em um base comunitária da PM em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo).
Pelo menos metade dos 27 agentes do Estado mortos nos atentados do PCC estava de folga. Eles foram surpreendidos na rua ou em suas casas. Dezessete suspeitos de participar dos atentados foram presos, segundo a polícia.
A transferência provisória de Marcola ao Deic fazia parte de um plano do governo paulista de isolar os líderes do PCC e evitar que a facção promovesse atentados e rebeliões. Segundo o governador Cláudio Lembo (PFL), as transferências de 765 líderes da facção para uma penitenciária em Presidente Venceslau foi decidida na quarta-feira. O projeto começou a ser implantado no dia seguinte.
Marcola chegou ao Deic anteontem sob um forte esquema de segurança. A intenção era isolar o líder do PCC na carceragem do departamento por pelo menos 10 dias, mas o projeto foi modificado quando os atentados começaram a ser deflagrados.
Quando a onda de ataques foi confirmada pelo governo, Marcola foi levado diversas vezes para uma sala do Deic onde estava o diretor do departamento, Godofredo Bittencourt.
As conversas, no entanto, não conseguiram evitar a seqüência de atentados. Marcola foi transferido novamente ontem pela manhã, pouco mais de 12 horas depois de ter chegado ao Deic. O destino foi o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), em Presidente Bernardes (589 km de SP).
Em 2002, após a divulgação pelo Deic de um organograma da facção -na qual Marcola aparecia no topo da hierarquia-, Bittencourt afirmou, em tom de ironia e vitória, que o PCC era uma "organização falida".
"O PCC é uma organização falida. Se o PCC tinha uma boca cheia de dentes, agora tem um dentinho ali e outro lá. Não morde mais ninguém", disse o delegado, em 2002.

Atentados
Na capital e na Grande São Paulo, os ataques aconteceram principalmente na noite de sexta-feira e na madrugada de ontem. Dois guardas municipais de Jandira (Grande SP) -Sidney de Paiva Rosa, 25, e Antonio Carlos de Andrade, 34- foram mortos a tiros. Em Osasco, um PM foi morto. Ele levou pelo menos 12 tiros depois que seu carro foi atacado por homens que estavam em um Gol.
Na porta do Hospital Geral de Guaianazes, na zona leste, um policial civil que trabalhava na delegacia do bairro, o 44º DP, foi atacado e morto. Ainda na mesma região, outro PM foi baleado e está internado em estado grave. Uma moradora de Sapopemba foi atingida na mão por uma bala perdida. Ao todo, na zona leste, foram três PMs baleados.
Na zona sul, um policial civil que trabalhava no 85º DP (Jardim Mirna) foi morto na porta de sua casa. Em outra ação, um investigador do 15º DP (Itaim Bibi) foi morto quando estava ao lado da noiva, sentado no balcão de um bar na rua Clodomiro Amazonas. Um homem encapuzado entrou no local e atirou na sua cabeça.
No centro de São Paulo, perto do teatro Sérgio Cardoso, um outro PM levou um tiro na perna. Por volta da 0h30 de ontem, um bombeiro foi morto na alameda Barão de Piracicaba. Três suspeitos foram presos pelo crime.


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