São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2008

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País terá mais negros que brancos neste ano

Estudo do Ipea feito a partir de dados da Pnad estima que esse será o quadro da população brasileira até o final de 2008

No entanto, a equiparação de renda entre os dois grupos, segundo a projeção feita pelo mesmo estudo, só deverá ocorrer em 2040

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) projeta que ainda neste ano a quantidade de negros (soma das pessoas que se autodeclaram pretas e pardas) irá superar a de brancos na população.
Em 2010, segundo o órgão do governo federal, eles já serão maioria absoluta entre os brasileiros, superando assim a soma de brancos, indígenas e amarelos no país.
Segundo o trabalho, o avanço da população negra ganhou impulso nos últimos anos muito por conta do trabalho de movimentos negros e sociais.
"As pessoas hoje estão se reconhecendo mais como negros", disse Mário Theodoro, diretor de Cooperação e Desenvolvimento do Ipea.
A base do estudo são dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE, na qual os entrevistados se declaram pretos e pardos ou brancos, amarelos e indígenas.
Sobre essa estimativa, o Ipea pondera: "Se as tendências de fecundidade continuarem como nos últimos anos, a partir de 2010 o Brasil será um país de maioria absoluta de negros. Como as taxas de fecundidade estão caindo também entre as mulheres negras, haverá uma estabilização da proporção de negros, talvez em torno de 50% da população".
Segundo a Pnad de 1976, a população brasileira era formada por 57,2% de brancos e 40,1% de negros. Trinta anos depois, os negros (soma de pretos e pardos) passaram a representar 49,5% da população, contra 49,7% dos brancos.

Renda média
Atualmente, segundo dados do IBGE reunidos no estudo do Ipea, a média salarial dos negros representa 53% da média entre os brancos.
De acordo com o instituto, uma equiparação de renda somente ocorrerá em 2040, isso diante da manutenção do atual ritmo de aquecimento social, provocado entre outros pelo programa Bolsa Família e pelo aumento do poder de compra do salário mínimo.
O próprio Ipea, porém, faz ressalvas. "O modelo do Bolsa Família está esgotado", disse Theodoro, citando a universalização de famílias pobres atendidas pelo programa de transferência de renda.
O Ipea diz que "o ritmo de queda [da diferença] dos últimos anos reflete um período extraordinariamente positivo que dificilmente se manterá nos próximos anos".
Ao falar ontem sobre o estudo e defender a adoção de cotas raciais nas universidades, Theodoro disse que a universalização dos programas oficiais "não é suficientemente capaz de acabar com as barreiras raciais". "A educação é que dá acesso ao mercado de trabalho. Nossa elite não é da cor de nosso país. Precisamos colori-la e diversificá-la."
Acerca da universalização de ações, o diretor do Ipea coloca como exemplo a abertura de vagas nas universidades.
Segundo o estudo, o número de vagas cresceu nos últimos 30 anos tanto para brancos como para os negros. A diferença entre os dois grupos, porém, também avançou. Os 4,3 pontos percentuais de 1976 foram a 13 pontos em 2006, sempre a favor dos brancos.

Classificação do IBGE
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) adota cinco categorias de cor ou raça: branca, preta, parda, amarela e indígena.
O uso da classificação "preta" é polêmico e encontra resistência em setores do movimento negro. O IBGE afirma que definiu essas categorias como forma de simplificar as pesquisas.


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