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País terá mais negros que brancos neste ano
Estudo do Ipea feito a partir de dados da Pnad estima que esse será o quadro da população brasileira até o final de 2008
No entanto, a equiparação de renda entre os dois grupos, segundo a projeção feita pelo mesmo estudo, só deverá ocorrer em 2040
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um estudo do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada) projeta que ainda neste ano
a quantidade de negros (soma
das pessoas que se autodeclaram pretas e pardas) irá superar a de brancos na população.
Em 2010, segundo o órgão do
governo federal, eles já serão
maioria absoluta entre os brasileiros, superando assim a soma de brancos, indígenas e
amarelos no país.
Segundo o trabalho, o avanço
da população negra ganhou impulso nos últimos anos muito
por conta do trabalho de movimentos negros e sociais.
"As pessoas hoje estão se reconhecendo mais como negros", disse Mário Theodoro,
diretor de Cooperação e Desenvolvimento do Ipea.
A base do estudo são dados
da Pnad (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílio), do
IBGE, na qual os entrevistados
se declaram pretos e pardos ou
brancos, amarelos e indígenas.
Sobre essa estimativa, o Ipea
pondera: "Se as tendências de
fecundidade continuarem como nos últimos anos, a partir
de 2010 o Brasil será um país de
maioria absoluta de negros. Como as taxas de fecundidade estão caindo também entre as
mulheres negras, haverá uma
estabilização da proporção de
negros, talvez em torno de 50%
da população".
Segundo a Pnad de 1976, a
população brasileira era formada por 57,2% de brancos e
40,1% de negros. Trinta anos
depois, os negros (soma de pretos e pardos) passaram a representar 49,5% da população,
contra 49,7% dos brancos.
Renda média
Atualmente, segundo dados
do IBGE reunidos no estudo do
Ipea, a média salarial dos negros representa 53% da média
entre os brancos.
De acordo com o instituto,
uma equiparação de renda somente ocorrerá em 2040, isso
diante da manutenção do atual
ritmo de aquecimento social,
provocado entre outros pelo
programa Bolsa Família e pelo
aumento do poder de compra
do salário mínimo.
O próprio Ipea, porém, faz
ressalvas. "O modelo do Bolsa
Família está esgotado", disse
Theodoro, citando a universalização de famílias pobres atendidas pelo programa de transferência de renda.
O Ipea diz que "o ritmo de
queda [da diferença] dos últimos anos reflete um período
extraordinariamente positivo
que dificilmente se manterá
nos próximos anos".
Ao falar ontem sobre o estudo e defender a adoção de cotas
raciais nas universidades,
Theodoro disse que a universalização dos programas oficiais
"não é suficientemente capaz
de acabar com as barreiras raciais". "A educação é que dá
acesso ao mercado de trabalho.
Nossa elite não é da cor de nosso país. Precisamos colori-la e
diversificá-la."
Acerca da universalização de
ações, o diretor do Ipea coloca
como exemplo a abertura de
vagas nas universidades.
Segundo o estudo, o número
de vagas cresceu nos últimos 30
anos tanto para brancos como
para os negros. A diferença entre os dois grupos, porém, também avançou. Os 4,3 pontos
percentuais de 1976 foram a 13
pontos em 2006, sempre a favor dos brancos.
Classificação do IBGE
O IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) adota cinco categorias de cor ou raça: branca, preta, parda, amarela e indígena.
O uso da classificação "preta"
é polêmico e encontra resistência em setores do movimento
negro. O IBGE afirma que definiu essas categorias como forma de simplificar as pesquisas.
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