São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2000


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PITTAGATE
Ex-interino afirma que não crê em revisão da sentença por parte do STJ e muito menos na aprovação do impeachment de Pitta
"Sou um prefeito destituído", diz Regis

THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Dezenove dias depois de assumir como prefeito interino, Regis de Oliveira deixou a Prefeitura de São Paulo às 17h39 de ontem sem esperanças de retornar ao poder.
É a segunda vez que ele joga a toalha. Em abril, anunciou que seria candidato a prefeito por não mais acreditar que a Justiça pudesse tirar Celso Pitta do cargo.
"Fui desembargador e nunca vi uma coisa dessas", disse Regis a assessores se referindo à sentença do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que devolveu o cargo de prefeito a Pitta dez dias depois de ter tomado decisão oposta.
Afirmou que não acredita em uma revisão da sentença do STJ. Também descartou a aprovação do impeachment pela Câmara Municipal com Pitta sentado na cadeira de prefeito.
Regis não terá oportunidade de retornar à prefeitura pelo voto porque anteontem deixou o seu antigo partido, o PMN (leia texto nesta página). O prazo para troca de legendas para as eleições de outubro está encerrado.
"Sou um prefeito destituído", definiu-se na saída do prédio da prefeitura, na região central da cidade. "Vou agora cuidar do meu escritório de advocacia."
Ele soube do resultado do julgamento do STJ por volta das 16h pela Internet. Não demonstrou surpresa. "Vamos arrumar nossas coisas", disse.
Pediu às secretárias que empacotassem objetos e um microcomputador pessoal, que ontem mesmo foram levados para o seu escritório.
O ex-prefeito interino suspeitava que poderia ser afastado do cargo desde segunda-feira à tarde, quando foi informado que o STJ havia decidido realizar novo julgamento. Avaliava que, ao permitir um novo julgamento, o tribunal apontava a favor de Pitta.
Ao contrário dos outros julgamentos em São Paulo e Brasília envolvendo o comando da prefeitura paulistana, ontem Regis não tinha um enviado acompanhando o caso. Depois, reconheceu que a decisão foi um erro.
Alguns assessores fizeram circular versão, sem provas, de que empresários ligados ao setor de coleta de lixo teriam feito lobby a favor do retorno de Pitta. A prefeitura deve R$ 189 milhões às empresas do setor.
Publicamente, Regis fez um discurso cuidadoso. "A cidade sofre com essa descontinuidade administrativa. A troca de prefeitos é ruim para a administração, que precisa de um rumo", disse.
Também não fez comentários agressivos à decisão do STJ. "Foi uma decisão técnica, não cabe a mim recorrer."
Nas avaliações do staff de Regis, o julgamento de ontem do STJ é quase final. Existem brechas para recursos, mas para eles não há tempo suficiente para que o caso seja definido antes de dezembro, quando termina o mandato de Celso Pitta.
Ao sair da prefeitura, Regis foi para casa. Pretende viajar nos próximos dias.
Seu último ato administrativo seria entregar doação de R$ 2,5 milhões para o hospital Santa Marcelina, na zona leste. A entrega do cheque já assinado estava programada para hoje.

Erros
Extraoficialmente, o staff de Regis avalia que ele cometeu cinco erros na sua curta administração na prefeitura.
O primeiro foi não ter visitado a Câmara e montado uma bancada leal. A falta de vereadores ao seu lado será decisivo na votação do impeachment de Pitta.
O segundo erro foi ter desprezado os recursos dos advogados de Pitta. Deixou de acompanhar os trâmites no STJ e soube do novo julgamento pelos jornais.
Outro engano foi de imagem. Regis passou a gestão anunciando muito, mas fazendo pouco.
Os planos divulgados eram de valores altos e mesmos programas de preço baixo (como o aumentar a limpeza das ruas) não foram implementados.
Também não avançou nos contatos com empresários e fornecedores da prefeitura.
Por último, a equipe falhou ao não ajudar as investigações do Ministério Público. A principal alegação dos promotores no pedido de afastamento de Pitta era que o prefeito atrapalhava as investigações. Essa tese seria provada se no período Regis fossem descobertas novas provas contra Pitta.


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