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"Impunidade motivou policiais"
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes de quatro entidades de direitos humanos e um
pesquisador disseram à Folha
que os PMs do Rio, acusados de
asfixiar o sequestrador Sandro do
Nascimento, agiram, entre outras
razões, motivados pelo sentimento de impunidade.
O pesquisador Ignacio Cano, do
Instituto Superior de Estudos da
Religião (Iser), no Rio, acompanhou na Justiça Militar a apuração de 301 homicídios cometidos
por policiais militares daquele Estado, entre 1993 e 1996. Resultado:
295 foram arquivados e seis foram julgados. No tribunal, todos
os policiais foram absolvidos.
"A possibilidade de condenar
um policial é muito pequena", declarou Cano. Nesse caso específico, o pesquisador espera que seja
diferente: "As televisões filmaram
o sequestrador entrando vivo no
carro da polícia e o laudo do IML
confirmou a asfixia", disse.
Para Suely Bellato, da Comissão
Nacional de Justiça e Paz (ligada à
CNBB), ao asfixiar o sequestrador, os policiais "agiram como
qualquer criminoso".
"Qual é a diferença entre os soldados e qualquer uma das pessoas que queriam linchar o homem?", questionou Suely.
Ela ressaltou que a Polícia Militar agiu de forma "criminosa",
justamente quando membros da
Comissão de Direitos Humanos
da Organização dos Estados
Americanos (OEA) encontravam-se no país: "O Estado demonstrou indiferença pela vida
na vista da imprensa e da OEA".
Cano, do Iser, disse que o asfixiamento do sequestrador é uma
demonstração do uso da violência motivado por vingança: "Os
policiais descontaram a morte da
refém no sequestrador".
Para ele, o ideal seria a redução
do uso da violência, mas ressaltou
que, quando isso é inevitável, a
força deve ser usada de forma
profissional.
"Os policiais não podem descontar a ineficiência da corporação nos acusados", disse.
Iberê Bandeira de Mello Filho,
da Comissão de Direitos Humanos da OAB de São Paulo, disse
que só a impunidade não é suficiente para explicar o fato de policiais matarem um preso: "É preciso verificar a condição emocional
desses homens".
Antônio Funari Filho, integrante da Comissão de Justiça e Paz de
São Paulo, disse que a sociedade
brasileira precisa discutir de que
forma é possível quebrar o ciclo
de violência, instalado no aparato
policial das cidades brasileiras.
(GABRIELA ATHIAS)
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