São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2001

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SISTEMA CARCERÁRIO

Inédita, a acusação atinge membro da cúpula da facção de presos, transferido para SP após rebelião no PR

Promotoria denuncia integrantes do PCC

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público de São Paulo denunciou ontem por formação de quadrilha, pela primeira vez, integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) e parentes de presos ligados a supostas operações criminosas.
A acusação atinge um dos membros da cúpula da facção, o detento José Márcio Felício, conhecido como Geléia, e seu braço direito, Gilmar Ângelo dos Santos. Ambos estavam na rebelião de Piraquara, no Paraná, e foram transferidos para São Paulo por pressão do PCC.
A denúncia é resultado de parte do trabalho de grampo telefônico em 12 centrais de atendimento do PCC em São Paulo, descobertas em três meses de investigação.
Um terceiro preso, considerado soldado na hierarquia da facção, e quatro mulheres, duas delas casadas com líderes do esquema, foram incluídas na ação penal.
O documento da promotoria, encaminhado ontem à Justiça, afirma que os acusados se associaram para "cometerem crimes, especialmente o tráfico de entorpecentes, extorsões, sequestros, homicídios e outros crimes".
"Uma pena de três a seis anos [pelo crime de formação de quadrilha" pode não ter o efeito para os líderes, que já têm bastante condenações, mas mostra que estamos conseguindo chegar aos aliados deles do lado de fora", afirmou ontem o promotor Roberto Porto, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). Hoje, as quatro mulheres aliadas estão presas.
As investigações da polícia, segundo ele, resultaram em um esboço da estrutura criminosa do PCC. Uma mesma apuração deve servir para vários processos. Por isso, faltam nomes conhecidos da facção na denúncia, como o de César Augusto Roris da Silva e Misael Aparecido da Silva, também apontados como fundadores do grupo criminoso.
O PCC atua hoje fora e dentro dos presídios, coordenado por centrais telefônicas -bases móveis de comunicação, administradas por pessoas de confiança, que interligam planejamento de crimes, pedidos de armas ou drogas.
"Uma vez executado o serviço fora, parte do dinheiro era levado para dentro das prisões. Com esse recurso, eles conseguiam ter autoridade dentro do sistema e alimentam a corrupção nas prisões", disse o promotor Marcio Sergio Christino, do Gaeco.
Por exemplo, um detento do interior podia ligar para as centrais, de um celular, e ser conectado com outros presos em qualquer lugar do país.
Por meio do grampo usado para a denúncia, a polícia de São Paulo evitou a fuga de Geléia no último dia 3. Logo que o plano foi descoberto, as autoridades paranaenses o transferiram temporariamente para Brasília.


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