|
Próximo Texto | Índice
CONTRABANDO
Pistola que custa R$ 1.300 no Brasil sai por R$ 979 no Paraguai e é vendida sem identificação do comprador
Fronteira tem livre comércio de arma
RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Pedro
Juan Caballero (Paraguai)
Armas e munições de diversos calibres são
vendidas sem
nenhum controle na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira seca (sem rios)
com o Mato Grosso do Sul.
A Agência Folha apurou, em
conversas gravadas com vendedores das quatro principais lojas do
ramo na cidade, que a exigência de
pelo menos um documento de
identidade do comprador, prevista
em lei paraguaia e que chegou a ser
aplicada no ano passado, já não é
mais seguida pelos comerciantes.
Numa das lojas, a Magnum, estavam à venda um fuzil norte-americano M-16 por US$ 400 e um fuzil
russo AK-47 por US$ 680.
Com a possível proibição de venda e porte de armas de fogo no Brasil o contrabando na fronteira com
o Paraguai poderá crescer.
A passagem do contrabando é facilitada pela grande extensão da
fronteira seca entre o Paraguai e o
Mato Grosso do Sul -cerca de 400
km. Há 60 estradas ligando os dois
países.
Pedro Juan Caballero e a brasileira Ponta Porã (MS) são cidades geminadas, e a fronteira é feita por
uma rua, onde o trânsito é livre.
As barreiras da Receita Federal e
das Polícias Federal, Rodoviária
Federal e Civil, feitas pelo DOF
(Departamento de Operações de
Fronteira), na principal rodovia federal, que liga Ponta Porã a Dourados, são ocasionais. No trecho,
transitam diariamente, em média,
2.000 veículos.
O delegado da PF de Ponta Porã
Lásaro Moreira da Silva acredita
que a proibição, pelo governo brasileiro, da exportação de armas para o Paraguai poderia reduzir o
contrabando na região.
A maioria das armas e munições
contrabandeadas é fabricada pelas
brasileiras Rossi, Taurus e CBC
(Companhia Brasileira de Cartuchos). Segundo a Receita Federal,
o Brasil exportou, entre janeiro de
98 e 30 de abril último, US$ 2,6 milhões em armas e munições para o
Paraguai -o equivalente a 7,2 milhões de balas calibre 38 ou 4.747
pistolas Taurus calibre 380.
Do lado paraguaio, a resolução
número 54, de 23 de novembro de
94, da Polícia Nacional, prevê a
exigência do registro da arma de
fogo no país no ato da venda. O comerciante deve formular um cadastro com dados do comprador.
Mas, em Pedro Juan, a lei não
vem sendo cumprida. Na maior
casa da cidade, o Shopping China,
uma pistola Taurus calibre 380, de
20 tiros, pode ser adquirida, sem a
apresentação de documento de
identificação, por US$ 550 -cerca
de R$ 979, pelo câmbio praticado
na última sexta-feira em Pedro
Juan. A mesma arma é vendida no
Brasil por mais de R$ 1.300, incluindo as taxas para registro.
O presidente da Câmara de Comércio de Pedro Juan, Tomás Julian Medina, disse que não pode
falar sobre o caso específico de
venda de armas. "Cada comerciante faz o que quer, mas acho que a lei
deve ser totalmente seguida."
O subadministrador da aduana
em Pedro Juan, Sisinio Zaracho,
disse que o Paraguai "implementou forte programa de controle de
venda de armas" em seu território.
"Aqui não se vende armas de forma indiscriminada", afirmou.
Próximo Texto: "Contrabando será favorecido' Índice
|