São Paulo, Segunda-feira, 14 de Junho de 1999
Próximo Texto | Índice

CONTRABANDO
Pistola que custa R$ 1.300 no Brasil sai por R$ 979 no Paraguai e é vendida sem identificação do comprador
Fronteira tem livre comércio de arma

RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Pedro

Juan Caballero (Paraguai)



Armas e munições de diversos calibres são vendidas sem nenhum controle na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira seca (sem rios) com o Mato Grosso do Sul.
A Agência Folha apurou, em conversas gravadas com vendedores das quatro principais lojas do ramo na cidade, que a exigência de pelo menos um documento de identidade do comprador, prevista em lei paraguaia e que chegou a ser aplicada no ano passado, já não é mais seguida pelos comerciantes.
Numa das lojas, a Magnum, estavam à venda um fuzil norte-americano M-16 por US$ 400 e um fuzil russo AK-47 por US$ 680.
Com a possível proibição de venda e porte de armas de fogo no Brasil o contrabando na fronteira com o Paraguai poderá crescer.
A passagem do contrabando é facilitada pela grande extensão da fronteira seca entre o Paraguai e o Mato Grosso do Sul -cerca de 400 km. Há 60 estradas ligando os dois países.
Pedro Juan Caballero e a brasileira Ponta Porã (MS) são cidades geminadas, e a fronteira é feita por uma rua, onde o trânsito é livre.
As barreiras da Receita Federal e das Polícias Federal, Rodoviária Federal e Civil, feitas pelo DOF (Departamento de Operações de Fronteira), na principal rodovia federal, que liga Ponta Porã a Dourados, são ocasionais. No trecho, transitam diariamente, em média, 2.000 veículos.
O delegado da PF de Ponta Porã Lásaro Moreira da Silva acredita que a proibição, pelo governo brasileiro, da exportação de armas para o Paraguai poderia reduzir o contrabando na região.
A maioria das armas e munições contrabandeadas é fabricada pelas brasileiras Rossi, Taurus e CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos). Segundo a Receita Federal, o Brasil exportou, entre janeiro de 98 e 30 de abril último, US$ 2,6 milhões em armas e munições para o Paraguai -o equivalente a 7,2 milhões de balas calibre 38 ou 4.747 pistolas Taurus calibre 380.
Do lado paraguaio, a resolução número 54, de 23 de novembro de 94, da Polícia Nacional, prevê a exigência do registro da arma de fogo no país no ato da venda. O comerciante deve formular um cadastro com dados do comprador.
Mas, em Pedro Juan, a lei não vem sendo cumprida. Na maior casa da cidade, o Shopping China, uma pistola Taurus calibre 380, de 20 tiros, pode ser adquirida, sem a apresentação de documento de identificação, por US$ 550 -cerca de R$ 979, pelo câmbio praticado na última sexta-feira em Pedro Juan. A mesma arma é vendida no Brasil por mais de R$ 1.300, incluindo as taxas para registro.
O presidente da Câmara de Comércio de Pedro Juan, Tomás Julian Medina, disse que não pode falar sobre o caso específico de venda de armas. "Cada comerciante faz o que quer, mas acho que a lei deve ser totalmente seguida."
O subadministrador da aduana em Pedro Juan, Sisinio Zaracho, disse que o Paraguai "implementou forte programa de controle de venda de armas" em seu território. "Aqui não se vende armas de forma indiscriminada", afirmou.


Próximo Texto: "Contrabando será favorecido'
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.