São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo põe polícia, mas ataques seguem

Pela manhã, só 4 das 16 empresas de ônibus da capital puseram parte da frota nas ruas; às 12h, 10% dos veículos operavam

Prefeito Kassab garantiu volta à normalidade nos transportes hoje, mas os ataques de ontem à noite põem em xeque a promessa


ALENCAR IZIDORO
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com medo dos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) e após se tornarem os principais alvos da facção, com 46 ônibus atacados em menos de 24 horas, as viações da cidade de São Paulo pararam de rodar ontem e deixaram mais de 2 milhões de passageiros a pé.
A circulação começou a ser retomada parcialmente às 16h, após as gestões Gilberto Kassab e Cláudio Lembo, ambos do PFL, definirem medidas para proteger o transporte, incluindo a colocação de policiais à paisana dentro dos ônibus.
O prefeito Gilberto Kassab prometia a normalização dos serviços hoje, mas ontem à noite os ataques recomeçaram, pondo em xeque a circulação total da frota pela manhã. O telefone 156, da prefeitura, informa sobre a situação das linhas.
Entre as 19h e as 20h30, dois ônibus foram incendiados, nas zonas oeste e norte. O fogo atingiu uma casa, e um idoso foi socorrido por inalar a fumaça.
A cooperativa de perueiros Transcooper, que opera nas zonas norte e leste, passou a receber ameaças por telefone de que teria suas garagens incendiadas caso mantivesse a frota na rua. Ela definirá apenas hoje se rodará normalmente.
Ontem de manhã, só 4 das 16 empresas da capital colocaram uma parte da frota em ação. Na hora do almoço, pouco mais de 10% dos 7.600 veículos operavam. Às 11h, numa reunião do prefeito com a cúpula da PM, foi definido que policiais à paisana, integrantes de um grupo de elite da corporação, passariam a andar dentro dos ônibus.
Kassab disse que mais da metade da frota teria um policial descaracterizado, número não confirmado na Polícia Militar.
Estado e prefeitura também anunciaram a concentração do policiamento em 20 dos principais corredores de tráfego, apesar de a maioria dos ataques terem ocorrido na periferia. O diretor de operações da SPTrans, Stanislav Feriancic, dizia que a prioridade às grandes vias era porque eles atendem mais de 50% do total de passageiros.
Apesar de Kassab afirmar que haveria normalidade no transporte coletivo hoje, Feriancic admitia que, se os incêndios a ônibus continuarem, a frota poderia não circular.
Pela manhã, a PM confirmava a ocorrência de 68 ataques a ônibus no Estado inteiro, 55% do total dos atentados atribuídos ao PCC nos dois últimos dias. Mas, pelos dados fornecidos por prefeituras, bombeiros e empresas, a quantidade era bem maior: passava de 180.
O comandante-geral da PM, coronel Elizeu Eclair, chegou a dizer que não era possível garantir a segurança total dos veículos. "Pode acontecer de queimarem ônibus e não ter policial? Pode. Queria deixar isso bem claro, até para não haver uma cobrança depois."
Pelo esquema de segurança divulgado, a GCM (Guarda Civil Metropolitana) protegerá as garagens e terminais.

Metrô
Por volta das 3h, a estação do metrô Capão Redondo foi alvo de dois tiros, que atingiram vidros próximos da bilheteria.
A interrupção dos ônibus, que começou anteontem à noite, levou a prefeitura a suspender ontem as regras do rodízio de veículos. Os congestionamentos foram acima da média.
Nas lojas, 10% dos funcionários não foram trabalhar, afirmou a entidade sindical.
O prefeito de São Paulo não repreendeu, inicialmente, a decisão das viações de não rodar. "A prefeitura não vai exigir [das empresas]. Vai cooperar com os ônibus para que tenham tranqüilidade de circular."
Mas, depois de se reunir com os empresários de ônibus, às 13h, Kassab deu um prazo até as 16h para que a circulação da frota fosse normalizada, sob pena de multas por descumprimento de partida previstas numa legislação municipal -que, em situações drásticas, pode levar à rescisão contratual.
O prazo foi atendido parcialmente. À noite, só 18% da frota estava rodando -menos de metade do previsto no horário.


Colaborou a Agência Folha

Texto Anterior: Medo do PCC deixa 2 milhões de pessoas a pé
Próximo Texto: Cooperativa também é alvo de atentados
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.