São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2010

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FRANCISCO LUCIANO LEPERA (1923-2010)

As convicções de um comunista

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Na mesma casa simples de dois quartos e forro de madeira no centro de Ribeirão Preto (SP), Francisco Luciano Lepera nasceu e morreu.
A trajetória que teve como vereador, deputado estadual e jornalista acabou fazendo dele uma figura respeitada -e até folclórica- na região.
Dirigente do PCB, ao ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa, nos anos 50 e 60, ficou conhecido como o deputado dos grevistas.
Numa das paralisações que apoiou, numa usina que mantinha os funcionários como escravos, chegou a ser agredido por capangas e perdeu todos os dentes.
Era combativo e incendiário. Prestes o considerava honesto e fiel, mas um pouco indisciplinado. Mesmo sendo deputado, nunca teve carro, por achar que era uma traição à classe operária.
Teve a candidatura impugnada por ser de um partido ilegal e a prisão decretada. Ficou um ano e meio foragido, até que advogados conseguiram livrá-lo da pena.
Permaneceria com os direitos políticos cassados por dez anos e foi banido do jornalismo. Vendeu então enciclopédia, antes de voltar à profissão. Esteve ligado ao Sindicato dos Jornalistas.
Foi casado com a militante Neuza. Em 1961, após o líder negro Patrice Lumumba ter sido morto no Congo, ganhou o único filho, batizado Luciano Patrice. Separou-se há mais de 30 anos e casou-se novamente no fim da vida.
Manteve suas convicções e desprendimento até morrer, no domingo, aos 86, deixando filho, neta e dois bisnetos. Sofria de Alzheimer. Ribeirão, administrada pelo DEM, decretou três dias de luto.

coluna.obituario@uol.com.br


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