|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FRANCISCO LUCIANO LEPERA (1923-2010)
As convicções de um comunista
ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO
Na mesma casa simples de
dois quartos e forro de madeira no centro de Ribeirão
Preto (SP), Francisco Luciano Lepera nasceu e morreu.
A trajetória que teve como
vereador, deputado estadual
e jornalista acabou fazendo
dele uma figura respeitada
-e até folclórica- na região.
Dirigente do PCB, ao ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa, nos anos 50
e 60, ficou conhecido como o
deputado dos grevistas.
Numa das paralisações
que apoiou, numa usina que
mantinha os funcionários como escravos, chegou a ser
agredido por capangas e perdeu todos os dentes.
Era combativo e incendiário. Prestes o considerava honesto e fiel, mas um pouco
indisciplinado. Mesmo sendo deputado, nunca teve carro, por achar que era uma
traição à classe operária.
Teve a candidatura impugnada por ser de um partido
ilegal e a prisão decretada.
Ficou um ano e meio foragido, até que advogados conseguiram livrá-lo da pena.
Permaneceria com os direitos políticos cassados por
dez anos e foi banido do jornalismo. Vendeu então enciclopédia, antes de voltar à
profissão. Esteve ligado ao
Sindicato dos Jornalistas.
Foi casado com a militante
Neuza. Em 1961, após o líder
negro Patrice Lumumba ter
sido morto no Congo, ganhou o único filho, batizado
Luciano Patrice. Separou-se
há mais de 30 anos e casou-se novamente no fim da vida.
Manteve suas convicções e
desprendimento até morrer,
no domingo, aos 86, deixando filho, neta e dois bisnetos.
Sofria de Alzheimer. Ribeirão, administrada pelo DEM,
decretou três dias de luto.
coluna.obituario@uol.com.br
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: AGU veta alerta em anúncio de alimentos gordurosos Índice
|