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EDUCAÇÃO
Irregularidades levam o CNE a aprovar, pela primeira vez, um descredenciamento; ministro precisa homologar
Conselho propõe fechar faculdade do Rio
BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília
O Conselho Nacional de Educação aprovou o descredenciamento
da Fahupe (Faculdade de Humanidades Pedro 2º), do Rio de Janeiro. É a primeira vez que o conselho descredencia uma instituição de ensino superior.
A decisão do CNE ainda precisa
passar pela homologação do ministro da Educação, Paulo Renato
Souza. Com o descredenciamento,
a instituição perde o direito de
funcionar como faculdade.
A Fahupe, particular, funciona
no prédio do colégio Pedro 2º, que
é uma autarquia federal.
A falta de pagamento de aluguel
ao Pedro 2º, uma dívida de cerca
de R$ 300 mil, é um dos problemas
apontados na instituição.
De 1.062 matriculados em 97, a
Fahupe passou este ano a 284, distribuídos em seis cursos: ciências
biológicas (31), história (18), letras
(25), matemática (31), psicologia
(147) e química (31). A faculdade
oferece também o curso de física,
mas não há alunos.
A instituição passa por uma série
de problemas há alguns anos e está
sob intervenção federal desde 96.
Fundada em 69, a Fahupe inicialmente foi instalada e mantida
pelo colégio Pedro 2º. Em 75, foi
autorizada a transferência da
mantenedora para a Sepe (Sociedade Educadora Pedro 2º), fundada por antigos professores.
Quatorze anos depois, a gestão
administrativa dos cursos foi passada para a CoopFahupe (Cooperativa Educacional dos Docentes
da Fahupe), sem consulta ao MEC,
segundo o relatório do CNE.
"A partir de 93 começaram os
problemas entre a cooperativa e a
faculdade. O então CFE (Conselho
Federal de Educação), com base
em sindicância, aprovou parecer
recomendando intervenção na Fahupe, face às gravíssimas irregularidades na parte acadêmica, desvios administrativos decorrentes
da interferência da cooperativa na
congregação, com prejuízo à qualidade de ensino", diz o relatório.
O CFE, no entanto, foi extinto
em 94 e não houve a intervenção.
Em 95, a Sepe encerrou o convênio com a Coopfahupe, nomeou
novo diretor para a faculdade e
contratou novos professores. Por
causa das mudanças, em fevereiro
de 96 a cooperativa pediu ao MEC
a intervenção na Fahupe.
Em março do mesmo ano, foi a
vez de a própria Sepe pedir ao
MEC a intervenção para desalojar
a cooperativa, "que estaria cometendo atos criminosos como desvio de verbas, emissão de diplomas falsos e matrículas irregulares, promovendo atos de rebelião,
agressões morais e ameaças de
agressões físicas", diz o relatório.
Interventor
Em abril de 96, o MEC nomeou
uma comissão de inquérito. Os resultados mostraram grande ociosidade no preenchimento das vagas dos sete cursos da instituição;
grande evasão de alunos (95% no
de física, 84% no de história, 75%
em letras e matemática, 64% em
química e 50% em ciências biológicas); falta de cumprimento da
grade curricular; irregularidades
nos cursos de pós-graduação; más
condições das instalações físicas,
móveis e equipamentos, falta de
materiais de consumo nos laboratórios e biblioteca desatualizada.
Três meses depois, o MEC nomeou um interventor, José Francisco Correa, que continua na instituição. Em 97 e neste ano, o ministério não autorizou a faculdade
a realizar vestibular. Entre as justificativas, são citadas as ações judiciais respondidas pela faculdade e
dívidas com INSS e aluguel.
Segundo a Secretaria da Educação Superior, a delegacia do MEC
vai cuidar da situação dos alunos.
Há duas alternativas: ou terminam
o curso na própria Fahupe ou serão transferidos para outras instituições.
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