São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO TIM LOPES

Segundo a Polícia Civil, André Capeta deve ter se suicidado; bombeiro prestou atendimento ao traficante

Morre outro acusado de matar jornalista

Marco Antonio Rezende/Folha Imagem
O bombeiro Luiz Gustavo Rangel Euzébio (sem camisa), que levou André Capeta até o hospital


MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Um dos nove indiciados pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, o traficante André da Cruz Barbosa, 22, o André Capeta, foi morto em circunstâncias misteriosas, na madrugada de ontem, na favela Vila Cruzeiro (Penha, zona norte do Rio). Baleado na cabeça, ele morreu no hospital.
Em menos de uma semana, é o segundo acusado que morre. Na quinta-feira, Maurício de Lima Matias, o Boizinho, foi morto por policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas na favela de Vigário Geral (zona norte).
As versões para a morte de Capeta são confusas. À tarde, o chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, informou que o suicídio é a hipótese mais provável.
A mesma hipótese foi sustentada por traficantes da Vila Cruzeiro, que internaram Capeta no Hospital Getúlio Vargas com nome falso (João Roberto dos Santos), segundo o delegado titular da 22ª DP, Milton Siqueira Júnior.
A possibilidade de Capeta ter sido morto em tiroteio com policiais militares não é descartada pelo delegado. Segundo ele, o traficante foi encontrado baleado em um ponto de ônibus na entrada da Vila Cruzeiro por volta da meia-noite. Uma hora antes, PMs haviam feito incursão na favela.
O comandante da unidade, tenente-coronel Ronaldo Menezes, disse que os policiais relataram ter ouvido tiros durante a operação. Após os disparos, eles teriam vasculhado a favela, mas não encontraram marcas de sangue. Menezes negou que houvesse tiroteio entre policiais e traficantes.
Segundo o delegado, Capeta foi levado para o hospital em uma ambulância do Corpo de Bombeiros dirigida pelo cabo Luiz Gustavo Rangel Euzébio, vizinho da mãe do traficante. Em depoimento, Euzébio disse que traficantes o obrigaram a conseguir o carro para transportar o cúmplice.
De acordo com Siqueira Júnior, o bombeiro afirmou que, após conseguir o veículo, foi a várias clínicas particulares na Penha e não conseguiu internar o ferido. Disse que, no trajeto, foi seguido por um carro com traficantes.
Por volta das 2h20 de ontem, relatou o bombeiro, Capeta foi internado no Getúlio Vargas. Uma hora depois, ele morreu. No depoimento, o cabo afirmou que, para facilitar a internação, os traficantes o mandaram dizer que a vítima tinha se suicidado.
A polícia descobriu o fato por volta das 4h, ao receber telefonema em que o serviço Disque-Denúncia informava que Capeta tinha morrido no Getúlio Vargas.
Dos nove indiciados pela morte de Tim Lopes, ocorrida em 2 de junho, cinco estão presos e dois continuam foragidos: Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, chefe da quadrilha, e Renato de Souza Paula, o Ratinho.

Indícios de suicídio
O chefe da Polícia Civil do Rio, Zaqueu Teixeira, disse ontem que "existem fortes indícios" de que André da Cruz Barbosa, o André Capeta, tenha se suicidado.
Ele se baseou no laudo do IML (Instituto Médico Legal), que mostra que o tiro foi disparado de baixo para cima, da esquerda para a direita e com o cano da arma encostado na cabeça. O laudo de exame residuográfico -verifica traços de pólvora nas mãos-, que pode comprovar a hipótese, deverá ser divulgado hoje.


Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Chefe da Polícia Civil vê indícios de suicídio
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.