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POLÍCIA FORA DA LEI
Casos são de 1985 a 2001 e não incluem as 12 mortes em Sorocaba
13 PMs respondem por 115 inquéritos por homicídio
ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Treze policiais militares do Gradi (Grupo de Repressão e Análise
dos Delitos de Intolerância), órgão criado para atuar em crimes
como racismo e discriminação sexual, respondem ou responderam
a 115 inquéritos por homicídio.
Cada inquérito corresponde a
uma ou mais mortes. "Foram recrutados para o Gradi policiais
com passado de muitos homicídios, o que é um absurdo", disse o
ouvidor das Polícias do Estado de
São Paulo, Firmino Fecchio.
Em vez de investigar crimes de
intolerância, o Gradi retirou da
cadeia, desde o começo de 2001,
pelo menos sete presos condenados e os infiltrou em quadrilhas
supostamente ligadas ao PCC
(Primeiro Comando da Capital).
Os 115 inquéritos contra os 13
PMs foram instaurados de 1985 a
2001. Isso não inclui, por exemplo, a operação que terminou em
12 mortes, em Sorocaba (100 km
de São Paulo), em março deste
ano. Desse número, 60% já foram
arquivados sem punição ao PM.
Para Fecchio, esses antecedentes criminais revelam um perfil de
policial totalmente inadequado
para o trabalho para o qual o Gradi foi criado. "É um perfil errado
para trabalhar com casos de intolerância e para o serviço de inteligência. São situações que exigem
policiais mais qualificados."
A própria Ouvidoria não conseguiu descobrir a lista de todos os
PMs que fizeram parte do Gradi
desde que ele foi criado, em março de 2000. O primeiro dossiê elaborado pela Ouvidoria listava 22
PMs, de várias unidades e do próprio Gradi, que participaram de
cinco operações investigadas.
Para chegar ao perfil dos 13
PMs, a Folha partiu de um documento reservado do Gradi à Justiça, de março deste ano, na qual
narra a operação em Sorocaba e
aponta a participação de 19 policiais do grupo na ação.
Esses nomes também foram
mencionados no Inquérito Policial Militar que investiga o caso.
Por último, os antecedentes foram confirmados pela Ouvidoria.
Campeão
O líder de inquéritos do Gradi é
o sargento H., responsável por 24
procedimentos. Em seguida aparecem o cabo M., com 20 inquéritos, e o sargento E., com 19.
Os três participaram de pelo
menos duas operações investigadas pela Ouvidoria: a morte de
cinco supostos integrantes do
PCC na rodovia Bandeirantes, em
Valinhos (85 km de SP), em janeiro, e a ação em Sorocaba.
Segundo o documento do Gradi, o sargento H. estava no carro
da PM com o preso Marcos Massari, ex-colaborador do Gradi, no
bloqueio ao suposto ônibus do
PCC, em Sorocaba.
A lista de 13 nomes inclui o tenente H., coordenador do grupo
-com um inquérito por homicídio-, sete sargentos, dois cabos e
três soldados.
A Secretaria Estadual da Segurança Pública, pasta à qual o Gradi era diretamente subordinado,
informou, por nota oficial, que
"trata-se de uma mera opinião do
ouvidor Firmino Fecchio e esclarece que a capacidade de analisar
as metodologias e inteligência nos
assuntos de polícia é de competência da PM".
Os membros da CPI do Sistema
Prisional da Assembléia devem
fazer uma reunião hoje, quando
pode ser votado o pedido, do deputado Wagner Lino (PT), de investigação das operações do Gradi. Ele pediu que seja feito um
convite ao secretário da Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, e
a juízes que autorizavam a saída
de presos e escutas telefônicas para prestarem esclarecimentos.
Lino propõe ainda uma acareação entre Abreu Filho e o preso
Ronny Clay Chaves, que afirma,
em uma carta, ter tido contato
com o secretário quando era colaborador do Gradi.
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