São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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POLÍCIA FORA DA LEI

Casos são de 1985 a 2001 e não incluem as 12 mortes em Sorocaba

13 PMs respondem por 115 inquéritos por homicídio

ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO

DA REPORTAGEM LOCAL

Treze policiais militares do Gradi (Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância), órgão criado para atuar em crimes como racismo e discriminação sexual, respondem ou responderam a 115 inquéritos por homicídio.
Cada inquérito corresponde a uma ou mais mortes. "Foram recrutados para o Gradi policiais com passado de muitos homicídios, o que é um absurdo", disse o ouvidor das Polícias do Estado de São Paulo, Firmino Fecchio.
Em vez de investigar crimes de intolerância, o Gradi retirou da cadeia, desde o começo de 2001, pelo menos sete presos condenados e os infiltrou em quadrilhas supostamente ligadas ao PCC (Primeiro Comando da Capital).
Os 115 inquéritos contra os 13 PMs foram instaurados de 1985 a 2001. Isso não inclui, por exemplo, a operação que terminou em 12 mortes, em Sorocaba (100 km de São Paulo), em março deste ano. Desse número, 60% já foram arquivados sem punição ao PM.
Para Fecchio, esses antecedentes criminais revelam um perfil de policial totalmente inadequado para o trabalho para o qual o Gradi foi criado. "É um perfil errado para trabalhar com casos de intolerância e para o serviço de inteligência. São situações que exigem policiais mais qualificados."
A própria Ouvidoria não conseguiu descobrir a lista de todos os PMs que fizeram parte do Gradi desde que ele foi criado, em março de 2000. O primeiro dossiê elaborado pela Ouvidoria listava 22 PMs, de várias unidades e do próprio Gradi, que participaram de cinco operações investigadas.
Para chegar ao perfil dos 13 PMs, a Folha partiu de um documento reservado do Gradi à Justiça, de março deste ano, na qual narra a operação em Sorocaba e aponta a participação de 19 policiais do grupo na ação.
Esses nomes também foram mencionados no Inquérito Policial Militar que investiga o caso. Por último, os antecedentes foram confirmados pela Ouvidoria.

Campeão
O líder de inquéritos do Gradi é o sargento H., responsável por 24 procedimentos. Em seguida aparecem o cabo M., com 20 inquéritos, e o sargento E., com 19.
Os três participaram de pelo menos duas operações investigadas pela Ouvidoria: a morte de cinco supostos integrantes do PCC na rodovia Bandeirantes, em Valinhos (85 km de SP), em janeiro, e a ação em Sorocaba.
Segundo o documento do Gradi, o sargento H. estava no carro da PM com o preso Marcos Massari, ex-colaborador do Gradi, no bloqueio ao suposto ônibus do PCC, em Sorocaba.
A lista de 13 nomes inclui o tenente H., coordenador do grupo -com um inquérito por homicídio-, sete sargentos, dois cabos e três soldados.
A Secretaria Estadual da Segurança Pública, pasta à qual o Gradi era diretamente subordinado, informou, por nota oficial, que "trata-se de uma mera opinião do ouvidor Firmino Fecchio e esclarece que a capacidade de analisar as metodologias e inteligência nos assuntos de polícia é de competência da PM".
Os membros da CPI do Sistema Prisional da Assembléia devem fazer uma reunião hoje, quando pode ser votado o pedido, do deputado Wagner Lino (PT), de investigação das operações do Gradi. Ele pediu que seja feito um convite ao secretário da Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, e a juízes que autorizavam a saída de presos e escutas telefônicas para prestarem esclarecimentos.
Lino propõe ainda uma acareação entre Abreu Filho e o preso Ronny Clay Chaves, que afirma, em uma carta, ter tido contato com o secretário quando era colaborador do Gradi.


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