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VIOLÊNCIA
Após esfaquear Rogério Rosa, que trabalhava havia oito meses na fundação, internos impediram que ele fosse socorrido
Funcionário da Febem é morto em rebelião
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma rebelião na unidade 31 da
Febem (Fundação Estadual do
Bem-Estar do Menor) de Franco
da Rocha, na Grande São Paulo,
principal alvo de denúncias de
maus-tratos a internos da fundação, terminou ontem com um
funcionário morto e dois feridos.
O agente Rogério Rosa, 32, que
completava oito meses na Febem,
recebeu golpes de faca artesanal
no pescoço. Segundo a fundação,
os internos rebelados impediram,
por 45 minutos, que ele recebesse
atendimento. Rosa foi socorrido
pelos bombeiros, mas morreu a
caminho do hospital.
A última morte violenta de um
funcionário ocorreu no mesmo
complexo, em março de 2001. Renato Feitosa de Araújo, 27, que estava na Febem havia sete meses,
foi morto com um tiro em uma
tentativa de resgate na unidade 30
-desativada no mês passado.
Ontem, na 17ª rebelião no complexo neste ano, 44 internos da ala
G -20 com mais de 18 anos- fizeram três funcionários reféns às
16h30. Um grupo teria aproveitado a liberação para jogar futebol e
rendido os funcionários.
Pouco tempo depois, Rosa foi
atingido gravemente. Ele e outro
funcionário, que continua hospitalizado, só foram liberados após
negociação com a direção e os
bombeiros. O terceiro refém foi libertado por policiais militares,
que invadiram a unidade às
18h30. Para o sindicato dos funcionários, são sete agentes feridos.
Dos rebelados, 14 internos -sete com mais de 18 anos- tiveram
participação direta no crime, segundo a Febem. Esses e os outros
30 que participaram da rebelião
seriam levados ontem à noite para
a delegacia, onde seriam responsabilizados por homicídio.
A Febem não soube informar o
motivo da rebelião. Segundo a sua
assessoria, a Corregedoria da fundação vai avaliar o caso para saber
por que Rosa foi agredido violentamente pelos internos.
Pai de dois filhos pequenos
-seis e dois anos- , Rosa trabalhava na unidade 30, mas foi
transferido para a 31, junto com
mais de cem internos, segundo o
sindicato da categoria.
O funcionário chegou a ser
apontado por internos ouvidos
na Promotoria da Infância e Juventude de São Paulo como autor
de agressões, mas o procedimento administrativo instaurado está
em andamento. "Se são tratados
[os internos] como bicho, reagem
como bicho. É lamentável o que
vem acontecendo com funcionários e internos", afirmou a promotora Sueli Riviera.
As unidades 30 e 31 lideravam
neste ano as denúncias de maus-tratos e tortura na Febem. A fundação adotou linha dura nas duas
unidades. Os menores ficaram
encarcerados a maior parte do
tempo -a Febem fala em uma
hora de sol por dia, mas internos e
mães afirmam que nem isso ocorre. Atividades esportivas, como
ocorreu ontem, eram destinadas
só para os internos com melhor
comportamento.
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