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São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2003

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VIOLÊNCIA

Após esfaquear Rogério Rosa, que trabalhava havia oito meses na fundação, internos impediram que ele fosse socorrido

Funcionário da Febem é morto em rebelião

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma rebelião na unidade 31 da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, principal alvo de denúncias de maus-tratos a internos da fundação, terminou ontem com um funcionário morto e dois feridos.
O agente Rogério Rosa, 32, que completava oito meses na Febem, recebeu golpes de faca artesanal no pescoço. Segundo a fundação, os internos rebelados impediram, por 45 minutos, que ele recebesse atendimento. Rosa foi socorrido pelos bombeiros, mas morreu a caminho do hospital.
A última morte violenta de um funcionário ocorreu no mesmo complexo, em março de 2001. Renato Feitosa de Araújo, 27, que estava na Febem havia sete meses, foi morto com um tiro em uma tentativa de resgate na unidade 30 -desativada no mês passado.
Ontem, na 17ª rebelião no complexo neste ano, 44 internos da ala G -20 com mais de 18 anos- fizeram três funcionários reféns às 16h30. Um grupo teria aproveitado a liberação para jogar futebol e rendido os funcionários.
Pouco tempo depois, Rosa foi atingido gravemente. Ele e outro funcionário, que continua hospitalizado, só foram liberados após negociação com a direção e os bombeiros. O terceiro refém foi libertado por policiais militares, que invadiram a unidade às 18h30. Para o sindicato dos funcionários, são sete agentes feridos.
Dos rebelados, 14 internos -sete com mais de 18 anos- tiveram participação direta no crime, segundo a Febem. Esses e os outros 30 que participaram da rebelião seriam levados ontem à noite para a delegacia, onde seriam responsabilizados por homicídio.
A Febem não soube informar o motivo da rebelião. Segundo a sua assessoria, a Corregedoria da fundação vai avaliar o caso para saber por que Rosa foi agredido violentamente pelos internos.
Pai de dois filhos pequenos -seis e dois anos- , Rosa trabalhava na unidade 30, mas foi transferido para a 31, junto com mais de cem internos, segundo o sindicato da categoria.
O funcionário chegou a ser apontado por internos ouvidos na Promotoria da Infância e Juventude de São Paulo como autor de agressões, mas o procedimento administrativo instaurado está em andamento. "Se são tratados [os internos] como bicho, reagem como bicho. É lamentável o que vem acontecendo com funcionários e internos", afirmou a promotora Sueli Riviera.
As unidades 30 e 31 lideravam neste ano as denúncias de maus-tratos e tortura na Febem. A fundação adotou linha dura nas duas unidades. Os menores ficaram encarcerados a maior parte do tempo -a Febem fala em uma hora de sol por dia, mas internos e mães afirmam que nem isso ocorre. Atividades esportivas, como ocorreu ontem, eram destinadas só para os internos com melhor comportamento.


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