São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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De acordo com especialistas, emissora agiu corretamente ao exibir gravação

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão da Globo de exibir um vídeo atribuído ao PCC foi defendida por especialistas em segurança e representantes da imprensa ouvidos pela Folha.
Eles consideraram a medida compreensível diante do risco de vida do repórter seqüestrado, mas divergem sobre a possibilidade de ela abrir um precedente para ações desse tipo.
"Hoje é o repórter, amanhã pode ser o governador. Nesse novo terrorismo não há mais escrúpulos", diz o major André Luís Woloszyn, especialista em terrorismo pelo Colégio Interamericano de Defesa (EUA).
Muitos elegem a exigência de exibição do vídeo pela facção como um marco que consolida os métodos do PCC como os de grupos terroristas -embora alguns ressaltem as diferenças nas motivações ideológicas.
"E se a TV não mostra as imagens e ele morre?", questiona Guaracy Mingardi, diretor do Ilanud (instituto das Nações Unidas que estuda a violência).
Para ele, essa exigência atribuída ao PCC é algo "pontual", que não tende a se repetir em larga escala. "Eles mudam as táticas, sempre inovam", diz.
Paulo Mesquita Neto, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, afirma que "veicular ou não a mensagem não é o fator determinante para saber se vamos ter mais ou menos ações". "Determinante será a reação das autoridades", avalia.
Denis Mizne, do Instituto Sou da Paz, diz que a resposta para evitar a abertura de precedentes tem de ser dada pelo Estado. Ele questiona o discurso da facção. "Não se pode acreditar que a luta do PCC é contra a opressão carcerária. Eles falam isso para ganhar apoio", diz.
Essa também é a opinião de Sérgio Mazina, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. "Não estamos lidando com o terror político ou ideológico. Claro que eles tentam ir nessa direção, tentam se apresentar como tal ao levantar a bandeira das condições carcerárias. Mas essa bandeira é inconsistente. O caráter é exclusivamente criminoso."
O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo, diz achar a atitude da Globo correta. "Ela não poderia deixar a vida do profissional em risco", afirma. Para ele, embora sem métodos legítimos, a reivindicação do PCC por um tratamento mais humano nos presídios é justa.
O jornalista Alberto Dines, do "Observatório da Imprensa", diz que "a Globo foi sensível ao aspecto humano". "Alguma hora chegaria a vez da mídia. Cabe ao jornalista não se deixar intimidar", afirma.
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) informou haver indicadores de que os governos "já não garantem as condições mínimas para o exercício irrestrito da liberdade de imprensa".
A ANJ (Associação Nacional de Jornais), a ANER (que agrupa os editores de revistas) e a Abert (das empresas de rádio e televisão) informaram que "os meios de comunicação e seus profissionais não são e nunca serão instrumentos a serviço de quem quer que seja".


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