São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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Saulo tentou evitar a divulgação do vídeo

Responsável pela segurança pública em São Paulo, ele fez pedido aos diretores da emissora, minutos antes da exibição

Procurado para comentar o pedido, o secretário não se manifestou; o governador Cláudio Lembo (PFL) não se manifestou sobre o caso


KLEBER TOMAZ
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

REGIANE SOARES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, tentou evitar, anteontem à noite, que a Rede Globo exibisse o vídeo com o manifesto do PCC.
Abreu Filho, segundo a Folha apurou, procurou dois diretores da Globo por telefone. Ontem, sua assessoria de imprensa disse que "a secretaria não iria comentar o assunto". Policiais envolvidos na operação para localizar o repórter Guilherme Portanova confirmaram a ligação de Saulo.
O delegado Osvaldo Nico Gonçalves, coordenador do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), também defendeu a não exibição da fita. Ele argumentou que a exibição abriria um precedente arriscado, porque significaria atender, sob ameaça, a uma exigência do PCC. "Isso vai abrir um precedente grande", afirmou Gonçalves, que esteve na sede da emissora. Ele foi enviado pela secretaria para falar com a Globo.
Na avaliação da polícia, ao ceder a um pedido, abre-se a possibilidade de que outras reivindicações sejam feitas da mesma maneira. A determinação de transmitir o vídeo partiu dos seqüestradores de Portanova como condição para que ele não fosse assassinado.
Pela sugestão dos policiais, a ação da Globo deveria seguir a negociação de um seqüestro convencional: 1) procurar não ceder "facilmente" às exigências dos captores -"Não pode ceder facilmente, senão vira rotina", disse um delegado da cúpula da polícia, sob anonimato. 2) exigir uma prova de vida, como uma foto do repórter acompanhada de um jornal do dia.
Embora tenha tentado pressionar a emissora, a cúpula da polícia paulista reconheceu que a decisão de veicular o vídeo ficou restrita à Globo.

Lembo
Assim como o secretário da Segurança, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), optou por não se pronunciar ontem. Eles não participaram de eventos públicos.
O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) foi um dos raros integrantes da cúpula do governo federal a se manifestar sobre a mais recente ação do PCC. Disse que demonstra uma "ousadia inaceitável" por parte do crime.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanha o caso desde sábado por relatos do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que, por sua vez, se manteve em contato com Lembo.
Tarso Genro considerou "correta" a decisão da Globo de cumprir a exigência feita pelos seqüestradores.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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