São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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SAÚDE
Cirurgiões plásticos iniciam, em Campo Grande, diagnósticos de 122 mulheres que sofreram deformações
Médicos avaliam vítimas de cirurgião

Gerson Oliveira/"Folha do Povo"
Mulher que teve os seios deformados em cirurgia plástica feita pelo médico Alberto Jorge Rondon


da Reportagem Local

Uma equipe de dez cirurgiões plásticos de cinco Estados desembarcou ontem em Campo Grande (MS) para uma tarefa inusitada: avaliar a situação de 122 mulheres que afirmam ter sido vítimas da imperícia de um mesmo cirurgião. Não há registro de caso semelhante no país.
São mulheres que se submeteram a cirurgias plásticas, principalmente nos seios e na barriga, a maioria delas ao longo do segundo semestre do ano passado.
O médico acusado, o clínico-geral Alberto Jorge Rondon, já foi deputado estadual (91/94) e no ano passado foi candidato derrotado a um novo mandato pelo PPB.
Rondon era dono de uma clínica no centro de Campo Grande e fazia as cirurgias pelo Previsul, Instituto de Previdência Social de Mato Grosso do Sul.
As cirurgias plásticas com finalidade estéticas não são cobertas pelo Previsul, mas o médico as registrava como operações para retiradas de nódulos. Assim, recebia do instituto e, por fora, cobrava R$ 500 das pacientes. O Previsul pagou R$ 1.700 por cirurgia, incluindo custos com médico, anestesia e medicamentos.
Desde 96, o médico realizou pelo Previsul 86 cirurgias plásticas, sendo 69 de plástica mamária feminina.
O médico foi denunciado por 24 de suas vítimas no Conselho Regional de Medicina e responde a ações na Justiça por danos morais, materiais e lesões corporais de natureza grave. Desde maio passado, ele não dá entrevistas nem é visto na cidade.
Muitas das mulheres ficaram com cicatrizes nas barrigas e nos peitos, dificuldade de movimento nos braços e pernas e até necrose em tecidos.
A maioria vem relatando problemas psicológicos e algumas afirmaram que as deformações decorrentes da cirurgia acabaram com o casamento.
Depois de levado ao Ministério Público e ao CRM, o drama das mulheres chegou à Secretaria Estadual da Saúde, daí ao governador do Estado, até desembarcar na mesa do ministro José Serra, da Saúde.
O próprio ministro teria feito um pedido à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica para que interferisse no caso.
Segundo a direção da sociedade, o governo federal ofereceu passagens a um grupo de cirurgiões para uma primeira avaliação da situação das mulheres.
A força tarefa de cirurgiões plásticos está sendo comandada pelo próprio presidente da sociedade, Farid Hakme. A intenção dos médicos é avaliar a situação de cada uma das vítimas ao longo do dia de hoje e considerar a possibilidade de novas cirurgias para reduzir as deformações.


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