São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DEFICIENTES

Crianças aprendem fala embaixo da água

EDMILSON ZANETTI
da Agência Folha

Duas professoras de Sorocaba, no interior de São Paulo, estão desenvolvendo uma técnica considerada inédita no Brasil em fonoaudiologia: crianças com problemas auditivos estão aprendendo, debaixo da água, como desenvolver melhor a fala.
O projeto, iniciado no final de junho, envolve um grupo de 12 alunos de 11 a 18 anos que nunca tinha entrado em uma piscina.
A autora da pesquisa, a pedagoga Silvana Rodrigues Chibani, 31, acredita que, debaixo da água, é possível abreviar o tempo de aprendizagem da fala.
Ela parte do princípio físico de que o som se propaga melhor na água do que no ar.
O projeto envolve a professora de educação física Silvia Helena Pavanatto Martins, 33.
Ela cuida do desenvolvimento motor dos alunos, da capacidade cardiorespiratória e neuromotora, da respiração subaquática, da resistência muscular, da flexibilidade e da articulação do aparelho fonador.
Segundo Silvia, os alunos "aprenderam a nadar com uma rapidez maior que o normal".
Debaixo da água, as crianças aprendem a emissão de fonemas, palavras e até frases inteiras, de acordo com Silvana, utilizando as mesmas técnicas da sala de aula.
O trabalho é feito dentro e fora da água. "Às vezes elas emitem sons com um lado do rosto encostado na superfície, para sentir melhor a vibração", diz Silvana.
A comerciante Bernardete Andrade Chaves, 35, disse que sua filha Elaine, 14, pronunciou pela primeira vez, na semana passada, o nome da irmã mais velha. "Deu para distinguir perfeitamente, pela primeira vez", disse a mãe.
Elaine, uma das alunas, tem apenas 5% da capacidade de audição. A deficiência é consequência de uma rubéola que sua mãe teve quando estava grávida.
A mãe diz que a filha, que faz tratamento desde os dois anos de idade, nunca esteve tão empolgada como agora com as aulas na água.
A professora Elaine Schochat, 40, pós-doutorada em audiologia pela Universidade de São Paulo, diz não ter informações sobre experiência semelhantes.
De acordo com ela, só seria possível constatar eficiência da pesquisa depois de comparar, durante um ano, a evolução da fala de dois alunos com o mesmo grau de deficiência, utilizando a terapia convencional e a alternativa.


Texto Anterior: Rotavírus é suspeito de aumento de casos de diarréia no Acre
Próximo Texto: Educação: Investimentos não corrigem distorção
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.