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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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EDUCAÇÃO

Meta de alfabetizar 1 milhão até o final do ano dificilmente será cumprida; parte dos repasses federais está atrasada

Entidades conveniadas não iniciaram aulas

DA REPORTAGEM LOCAL

DA AGÊNCIA FOLHA

Apesar de o governo afirmar que vai alfabetizar, até o fim do ano, 1 milhão de pessoas, em convênio com ONGs, universidades e governos, a maioria das entidades que já participam do Brasil Alfabetizado e foram ouvidas pela Folha nem sequer começou a dar aulas. Isso significa que a meta dificilmente será cumprida.
Em São Paulo, as primeiras turmas deverão terminar o curso em janeiro de 2004. Duas das quatro entidades conveniadas já iniciaram os trabalhos. A previsão é que pelo menos 25 mil pessoas sejam alfabetizadas no Estado.
Por ter fechado o convênio com o MEC em maio, o MST já tem 78 turmas em andamento em São Paulo. Há 1.200 membros do movimento em processo de alfabetização, que não termina antes de fevereiro. "A realidade é diferente do projeto do governo", diz Edna Araújo, coordenadora do setor de educação do MST no Estado.
Fora do programa Brasil Alfabetizado, os cursos de alfabetização do MST costumam durar dez meses, mas o cronograma do projeto enviado ao MEC foi de seis meses para se adaptar ao prazo máximo exigido para concessão da verba, afirma Enedina de Andrade, do setor nacional de educação da entidade.
Na prática, os cursos durarão oito meses. Segundo Andrade, é impossível fazer um trabalho aceitável de alfabetização no meio rural em prazo menor. "No campo, não há tanto contato com as letras como nas cidades", diz.
A priori, as despesas dos dois meses excedentes (janeiro e fevereiro de 2004) serão custeadas pelo próprio MST. "Mas estamos tentando uma prorrogação do convênio com o governo", diz Andrade. O MST deve alfabetizar 27,6 mil pessoas em 23 Estados.

Interior de São Paulo
A prefeitura petista de São Carlos, que também já começou seu curso, ainda não sabe se conseguirá atender os 1.800 analfabetos incluídos no convênio. "Falta espaço para as aulas", diz Leila Aparecida Mendonça, coordenadora do Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos).
O município também ainda está providenciando cadernos, lápis e borrachas para os primeiros 1.400 alfabetizandos, que começaram as aulas em agosto.
A prefeitura petista de Campinas firmou o convênio em julho, mas só começou a capacitar educadores na semana passada porque estava trabalhando na captação de alunos. O objetivo é alfabetizar 20 mil pessoas.
"Não sabemos se 20 mil pessoas irão querer estudar. Pode ser que não queiram vir agora", diz Dulcinéia Pereira, responsável pelo Brasil Alfabetizado na cidade.
O município ainda discute o orçamento para criar vagas na rede formal de ensino para os alunos que continuarem os estudos.
A prefeitura de Catanduva, também do PT, assinou há duas semanas convênio para alfabetizar 2.050 alunos e começará a treinar educadores em breve.

Verbas atrasadas
No Amazonas, a Universidade Estadual prevê gastos de cerca de R$ 11 milhões para alfabetizar 25 mil pessoas. Os recursos do MEC só chegam a R$ 2,8 milhões. Outras instituições também ainda não receberam as verbas. As secretarias da Educação do Acre e de Alagoas, além da Universidade Federal de Uberlândia (MG), estão esperando os repasses.
Dez instituições disseram que vão cumprir as metas de alfabetização. As prefeituras de Natal (RN), de Gaspar (SC) e de Dionísio Cerqueira (SC), além da Pastoral da Criança no Paraná, devem entregar nos próximos dias ao governo federal a lista dos alunos a serem atendidos. Depois disso, a verba começa a ser repassada.
Das instituições que já receberam as verbas federais, a Prefeitura de Indaial (SC) teve um repasse de R$ 45,5 mil para alfabetizar 500 pessoas, a Secretaria da Educação de Sergipe recebeu R$ 1,5 milhão para 14,3 mil alunos, e o Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação (RS) ganhou R$ 50 mil para ensinar 800 a ler e escrever.
A Secretaria da Educação do Piauí deve iniciar a alfabetização de 60 mil pessoas ainda neste mês.
O caso mais atrasado é o da Prefeitura de Aracaju (SE). A equipe de 400 professores, que deverá atender a 10 mil pessoas, ainda nem começou a ser selecionada.



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