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TRÂNSITO
No próximo dia 22, acontece em 24 cidades brasileiras a terceira jornada para diminuir a frota de automóveis nas ruas
Campanha estimula "abandono" de carro
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista Adauto Farias
comprou um automóvel, mas
nem chegou a usá-lo. A engenheira Cristina Baddini se libertou
desse "vício" faz um ano e meio.
O estudante Marcelo Trapé o utiliza de forma controlada.
Farias, Baddini e Trapé fazem
parte de um grupo de brasileiros
que vão na contramão da obsessão da população por carros. Eles
decidiram rejeitar esse meio de
transporte individual em seus
principais deslocamentos por razões que não são financeiras. Não
se trata de nenhuma fobia, apenas
uma opção de vida.
Os três andam de ônibus, metrô, lotação, bicicleta ou a pé
-apesar de a qualidade das calçadas e do transporte coletivo sobre rodas não dar motivo para
elogios e de haver só 6 km de ciclovias nas ruas de São Paulo.
"Eu me libertei do automóvel.
Estou supersatisfeita", diz Baddini, que, desde que voltou de Belém à capital paulista, em 2002, se
desloca a pé e de metrô.
Na colégio particular onde sua
filha estuda, colegas e professores
estranham. "Eles perguntam: que
carro a sua mãe tem? Ela diz: nenhum. Há até um constrangimento. Eles estão acostumados a
ir à padaria da esquina de carro."
"Não gosto de carro, não me faz
falta", afirma Farias, 43, que utiliza metrô diariamente e ônibus ou
lotação em São Paulo ao menos
três vezes por semana. O economista chegou a adquirir um Gol
num consórcio nos anos 80.
"Ele ficou dois meses na garagem, até que decidimos vendê-lo.
Nem eu nem minha ex-mulher
queríamos usá-lo", diz Farias, que
usa ônibus até para ir ao shopping
com suas filhas.
"Nunca pensei em ter carro. Só
abro mão da bicicleta quando saio
para a "balada" ou quando chove
muito", diz Trapé, 24, que roda 23
km diariamente de bicicleta, incluindo a ida para a faculdade.
Avessos
Grupos avessos a automóveis
mostrarão sua força no dia 22, durante a 3ª Jornada Brasileira "Na
Cidade Sem Meu Carro". O evento teve origem na França, em
1998, e se difundiu principalmente na Europa (há mais de mil cidades cadastradas no mundo).
No Brasil, pela primeira vez, ele
será realizado em um dia útil
-uma segunda-feira. A intenção
é que a população reflita sobre os
problemas causados pela utilização indiscriminada do carro e
tente adotar novos hábitos de deslocamento para combater a poluição, favorecer a mobilidade e reduzir as mortes no trânsito.
A jornada "Sem Meu Carro", liderada pela ONG Ruaviva (Instituto da Mobilidade Sustentável) e
pela ANTP (Associação Nacional
de Transporte Públicos), propõe
que os municípios façam campanhas de conscientização, adotem
medidas pontuais de restrição
veicular e façam melhorias no sistema de transporte coletivo.
A participação das prefeituras é
vista como um desafio num país
onde os carros são uma paixão
popular. Mas 24 delas já se comprometeram a aderir ao movimento -incluindo 12 capitais,
entre elas Curitiba, Goiânia e Florianópolis, as que têm os maiores
índices de motorização no Brasil.
A jornada "Sem Meu Carro"
conquistou espaço neste ano. Passou até a ser apoiada no governo
federal. Em 2001, foram 11 municípios engajados. Em 2002, 17.
A principal medida sugerida é a
demarcação de uma área na região central onde se restrinja a circulação de carros nesse dia -sendo liberada a passagem de pedestres, ônibus, bicicletas e táxis.
"Vai haver aquele motorista que
vai reclamar do trânsito, dizer que
estamos atrapalhando a passagem do automóvel. Mas a idéia é
essa, que ele reflita sobre a situação", diz Antenor José Pinheiro,
superintendente de Trânsito e
Transportes de Goiânia.
Uma das primeiras reações dos
motoristas quando se pede que
deixem seus carros na garagem é
a reclamação sobre a qualidade e
a oferta de transporte coletivo.
Colaborou MARIANA VIVEIROS,
da Reportagem Local
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