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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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TRÂNSITO

No próximo dia 22, acontece em 24 cidades brasileiras a terceira jornada para diminuir a frota de automóveis nas ruas

Campanha estimula "abandono" de carro

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Adauto Farias comprou um automóvel, mas nem chegou a usá-lo. A engenheira Cristina Baddini se libertou desse "vício" faz um ano e meio. O estudante Marcelo Trapé o utiliza de forma controlada.
Farias, Baddini e Trapé fazem parte de um grupo de brasileiros que vão na contramão da obsessão da população por carros. Eles decidiram rejeitar esse meio de transporte individual em seus principais deslocamentos por razões que não são financeiras. Não se trata de nenhuma fobia, apenas uma opção de vida.
Os três andam de ônibus, metrô, lotação, bicicleta ou a pé -apesar de a qualidade das calçadas e do transporte coletivo sobre rodas não dar motivo para elogios e de haver só 6 km de ciclovias nas ruas de São Paulo.
"Eu me libertei do automóvel. Estou supersatisfeita", diz Baddini, que, desde que voltou de Belém à capital paulista, em 2002, se desloca a pé e de metrô.
Na colégio particular onde sua filha estuda, colegas e professores estranham. "Eles perguntam: que carro a sua mãe tem? Ela diz: nenhum. Há até um constrangimento. Eles estão acostumados a ir à padaria da esquina de carro."
"Não gosto de carro, não me faz falta", afirma Farias, 43, que utiliza metrô diariamente e ônibus ou lotação em São Paulo ao menos três vezes por semana. O economista chegou a adquirir um Gol num consórcio nos anos 80.
"Ele ficou dois meses na garagem, até que decidimos vendê-lo. Nem eu nem minha ex-mulher queríamos usá-lo", diz Farias, que usa ônibus até para ir ao shopping com suas filhas.
"Nunca pensei em ter carro. Só abro mão da bicicleta quando saio para a "balada" ou quando chove muito", diz Trapé, 24, que roda 23 km diariamente de bicicleta, incluindo a ida para a faculdade.

Avessos
Grupos avessos a automóveis mostrarão sua força no dia 22, durante a 3ª Jornada Brasileira "Na Cidade Sem Meu Carro". O evento teve origem na França, em 1998, e se difundiu principalmente na Europa (há mais de mil cidades cadastradas no mundo).
No Brasil, pela primeira vez, ele será realizado em um dia útil -uma segunda-feira. A intenção é que a população reflita sobre os problemas causados pela utilização indiscriminada do carro e tente adotar novos hábitos de deslocamento para combater a poluição, favorecer a mobilidade e reduzir as mortes no trânsito.
A jornada "Sem Meu Carro", liderada pela ONG Ruaviva (Instituto da Mobilidade Sustentável) e pela ANTP (Associação Nacional de Transporte Públicos), propõe que os municípios façam campanhas de conscientização, adotem medidas pontuais de restrição veicular e façam melhorias no sistema de transporte coletivo.
A participação das prefeituras é vista como um desafio num país onde os carros são uma paixão popular. Mas 24 delas já se comprometeram a aderir ao movimento -incluindo 12 capitais, entre elas Curitiba, Goiânia e Florianópolis, as que têm os maiores índices de motorização no Brasil.
A jornada "Sem Meu Carro" conquistou espaço neste ano. Passou até a ser apoiada no governo federal. Em 2001, foram 11 municípios engajados. Em 2002, 17.
A principal medida sugerida é a demarcação de uma área na região central onde se restrinja a circulação de carros nesse dia -sendo liberada a passagem de pedestres, ônibus, bicicletas e táxis.
"Vai haver aquele motorista que vai reclamar do trânsito, dizer que estamos atrapalhando a passagem do automóvel. Mas a idéia é essa, que ele reflita sobre a situação", diz Antenor José Pinheiro, superintendente de Trânsito e Transportes de Goiânia.
Uma das primeiras reações dos motoristas quando se pede que deixem seus carros na garagem é a reclamação sobre a qualidade e a oferta de transporte coletivo.


Colaborou MARIANA VIVEIROS, da Reportagem Local


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