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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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PASSAPORTE

Profissionais cobram caro para adequar inscrição de candidato a perfil exigido por universidades disputadas

"Marqueteiro" ajuda a estudar no exterior

PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Se um marqueteiro ajudou um metalúrgico a chegar à Presidência da República, por que não pode ajudar um estudante a entrar em uma pós-graduação em Harvard? Esse é um dos serviços prestados por consultores educacionais, profissionais que ajudam a escolher a faculdade e a definir a melhor estratégia para ser aceito.
A idéia é a seguinte: depois de longas entrevistas, esses consultores decidem, com o cliente/candidato, que características e experiências devem ser ressaltadas -e sob que ângulo- nos documentos enviados para cada faculdade. A proposta do serviço é aumentar as chances de aceitação.
Mas o auxílio não garante a aprovação na faculdade escolhida e fica em, no mínimo, R$ 1.700 -normalmente sem direito a reembolso, em caso de fracasso. Depois de concluído o processo, com ou sem consultoria, o custo desses cursos no exterior pode chegar a US$ 100 mil, mas há financiamentos e bolsas de estudo.
Os profissionais de consultoria normalmente já sabem o que quer cada faculdade, o que deve constar do "application" (textos enviados para o processo de seleção) e até quais os melhores prazos para cada instituição.
Se a faculdade busca alunos de perfil acadêmico, são escolhidos pontos da vida estudantil que tenham relevância nesse aspecto. Se a instituição quer futuros presidentes de multinacionais, o negócio é trazer à luz experiências profissionais impactantes.
Os consultores dizem que não há invenção nesse "marketing estudantil", mas a orientação sobre que instituição combina melhor com a história e com as aptidões do candidato/cliente à vaga no exterior. Assim, não há por que manipular informações, uma vez que os pontos importantes da trajetória do cliente/candidato normalmente "batem" com o que esperam as instituições escolhidas.

O "Duda" da inscrição
"Na hora de vender seu peixe, eu sou o seu Duda Mendonça", define o consultou Ricardo Betti, um dos que estão há mais tempo nesse negócio. Médico formado pela USP e ex-aluno de MBA (Master in Business Administration) do MIT (Massachussets Institute of Technology), Betti fundou sua empresa em 1990.
Ele explica melhor o processo de seleção. "Há um núcleo comum de atributos que todas as universidades querem, mas há diferenças. Harvard privilegia o "individual", como alguém que pratica esportes solitários. Em outras, como o MIT, você tem de provar que sabe trabalhar em equipe."
Betti diz que 235 alunos entraram em universidades estrangeiras em 2002 sob sua consultoria. Ele cobra US$ 2.400 por um pacote de 20 horas. Em média, envia documentos para dez instituições. O preço, cerca de R$ 7.200, não inclui a preparação para exames de inglês e de raciocínio, em que Betti indica professores.

Da prova aos remédios
Outra empresa, a British Connection, tem como alvo o Reino Unido, mas sem uma área acadêmica tão definida -de boas escolas de dança a pós-graduação.
As três sócias -Gisela Maldonado, Cristiane Moncau e Daniela Romero- são advogadas e fizeram mestrado em Londres. De volta, foram procuradas por várias pessoas com pedido de ajuda e decidiram montar a consultoria.
O serviço começou a funcionar no início do ano. Além da ajuda na hora de enviar os documentos, a British diz que auxilia os clientes até na hora de descobrir que remédios tomar no Reino Unido. "A gente só não embarca junto", afirma Cristiane Moncau.
A agência também indica professores para a preparação para as provas. Os preços dos pacotes variam de R$ 750 (para escolher o perfil da escola e indicar as melhores instituições da área) a cerca de R$ 2.500 (assessoria desde a escolha até a viagem).

Psicologia
Há cinco anos fazendo serviço de consultoria, a psicóloga Cláudia Gonçalves explica que, hoje em dia, a maioria dos candidatos tem um perfil ao menos razoável, então o importante é o modo de mostrar suas qualidades. "Eles [a universidade] têm de saber quem você é, não o que você fez." Ela começou preparando candidatos para as provas, mas atualmente também elabora o "application".
Segundo Gonçalves, o mais importante no serviço de consultoria é ajudar a direcionar o candidato para a escola em que se encaixa o seu perfil. "O que a escola quer são pessoas autênticas." A psicóloga cobra R$ 135 por hora.


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