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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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ACEITAM-SE TURISTAS

Enquanto vôos para a Europa têm ocupação 30% maior que em 2002, sobra vaga para cidades norte-americanas

Regras para visto dos EUA fazem brasileiro mudar rota

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA

Seis horas sendo vigiada por homens de preto armados, que a levaram por corredores subterrâneos a uma sala cercada de vidros à prova de bala, sem direito a sequer um copo d'água. A brasileira Kimie Kawashima, 40, foi interrogada, fotografada, tirou impressões digitais e teve de jurar perante a Constituição dos EUA que seu depoimento era verdadeiro.
A acusação? Passar pelos EUA, rumo ao Japão, sem o visto norte-americano de trânsito. A cena, ao gosto de Hollywood, aconteceu perto dali, no aeroporto de Los Angeles, no começo de agosto.
Mesmo com o bilhete aéreo em mãos, foi posta num avião, escoltada, de volta a São Paulo. "Fui deportada. Nunca me senti tão humilhada", diz, "mas voltei ao Brasil, tirei o maldito visto e fui para o Japão". Na volta, a imigração a brecou. "Acho que minhas fotos ficaram no computador, mas, com o visto, me liberaram logo."
Desde o mês passado, o Departamento de Segurança Interna dos EUA exige visto de trânsito para quem nem sai do avião -só precisa fazer escala de vôos internacionais em seus aeroportos.
Os EUA podem suspender a decisão até o fim do mês, mas há outros obstáculos. Exige-se entrevista pessoal em consulado ou embaixada (no Brasil, só em São Paulo, Rio, Recife e Brasília).
O Departamento de Estado diz que adotou as medidas por causa de um suposto plano que se beneficiaria de escalas e conexões no país para um ataque terrorista.
Os brasileiros resolveram, então, mudar o destino. "A maioria dos turistas está redirecionando a viagem para a Europa", diz Gilberto Almeida de Araújo, 36, diretor da Speedytour, agência e operadora de São Paulo. Resultado: os vôos para a Europa estão lotados até o final deste mês, com uma média de ocupação 30% superior ao mesmo período de 2002.
Lourival Silva, dono da LCN Turismo, de Belo Horizonte, diz que a demanda de vôos para a Europa é "impressionante". "Em 15 anos de turismo, nunca vi nada igual."
Já nas companhias dos EUA... "Tem vaga à vontade. Há vôos abertos em todas as empresas para qualquer destino nos EUA", diz Bárbara Magalhães, da agência paulistana Wayout Turismo.
O brasileiro, indica a Embratur, está indo menos aos EUA -caiu de 670.970 pessoas, em 2000, para 466.330, em 2002 (queda de 30%). E o cenário deve piorar, diz o mercado. "Turistas que moram onde não há consulado, preço do visto, burocracia e humilhação, tudo isso pesa contra os EUA", afirma José Zuquim, 45, presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo).
Komatsu Shigehiko, diretor de vendas da JAL (Japan Airlines), diz que as companhias aéreas estão discutindo com o governo dos EUA medidas para abolir o visto de trânsito. Não está descartada alteração de rota de escala.
A maneira como os brasileiros são recebidos foi um dos temas da reunião entre diplomatas dos dois países, na terça, em Washington. Os EUA decidiram elevar de três meses para cinco anos a validade do visto de trânsito e de um para quatro anos o de estudante. Foi fixado em cinco anos o prazo geral de visto para turista brasileiro.
O embaixador do Brasil nos EUA, Rubens Barbosa, 65, disse, de Washington, que os norte-americanos admitem que houve confusões e excessos. "É bom que todo cidadão saiba que, se for barrado, tem o direto de dar um telefonema ao consulado."

Disney em dez vezes
Para atrair clientes, a agência Tia Augusta lançou um pacote para Orlando por US$ 625, em até dez vezes em reais. Em relação a 2002, os preços estão em média 10% menores em dólar. E o valor da moeda caiu de R$ 3,10, na primeira quinzena de setembro de 2002, para os atuais R$ 2,95.
"Os preços estão convidativos, mas o problema é o visto", reclama o economista Roberto Rodrigues da Silva, 54. Ele, a mulher, Silvia, 54, e o filho, Roberto Machado, 29, obtiveram visto, mas a neta Bruna, 9, não. No consulado, diz, ninguém explicou por que só a menina não obteve o visto.
"A Bruninha só fala em conhecer o Mickey, os olhos dela brilham", diz. "Nas próximas férias, vou levá-la à Disney francesa."
A presença brasileira na Disney americana, depois do 11 de Setembro, caiu pela metade. Além disso, o escritório da Walt Disney Parks & Resorts, que funciona há oito anos em São Paulo e responde também por Argentina, Chile e Uruguai, fecha as portas na próxima quarta. Segundo a empresa, a matriz vai gerenciar as operações.
Os EUA também perdem terreno no intercâmbio, dizem agências de cursos de inglês. "Não vou sofrer novo desgaste", diz o bombeiro Edson Roberto Oliveira Mendes de Moura, 35, que teve o visto para intercâmbio negado três vezes, em 96, 97 e 98. Ele está indo para Toronto fazer um curso por 30 dias e não teme ser barrado. "Lá, o tratamento e o respeito com o estrangeiro são outros."


Colaborou a Agência Folha
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