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ACEITAM-SE TURISTAS
Enquanto vôos para a Europa têm ocupação 30% maior que em 2002, sobra vaga para cidades norte-americanas
Regras para visto dos EUA fazem brasileiro mudar rota
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA
Seis horas sendo vigiada por homens de preto armados, que a levaram por corredores subterrâneos a uma sala cercada de vidros
à prova de bala, sem direito a sequer um copo d'água. A brasileira
Kimie Kawashima, 40, foi interrogada, fotografada, tirou impressões digitais e teve de jurar perante a Constituição dos EUA que seu
depoimento era verdadeiro.
A acusação? Passar pelos EUA,
rumo ao Japão, sem o visto norte-americano de trânsito. A cena, ao
gosto de Hollywood, aconteceu
perto dali, no aeroporto de Los
Angeles, no começo de agosto.
Mesmo com o bilhete aéreo em
mãos, foi posta num avião, escoltada, de volta a São Paulo. "Fui deportada. Nunca me senti tão humilhada", diz, "mas voltei ao Brasil, tirei o maldito visto e fui para o
Japão". Na volta, a imigração a
brecou. "Acho que minhas fotos
ficaram no computador, mas,
com o visto, me liberaram logo."
Desde o mês passado, o Departamento de Segurança Interna
dos EUA exige visto de trânsito
para quem nem sai do avião -só
precisa fazer escala de vôos internacionais em seus aeroportos.
Os EUA podem suspender a decisão até o fim do mês, mas há outros obstáculos. Exige-se entrevista pessoal em consulado ou embaixada (no Brasil, só em São
Paulo, Rio, Recife e Brasília).
O Departamento de Estado diz
que adotou as medidas por causa
de um suposto plano que se beneficiaria de escalas e conexões no
país para um ataque terrorista.
Os brasileiros resolveram, então, mudar o destino. "A maioria
dos turistas está redirecionando a
viagem para a Europa", diz Gilberto Almeida de Araújo, 36, diretor da Speedytour, agência e operadora de São Paulo. Resultado:
os vôos para a Europa estão lotados até o final deste mês, com
uma média de ocupação 30% superior ao mesmo período de 2002.
Lourival Silva, dono da LCN Turismo, de Belo Horizonte, diz que
a demanda de vôos para a Europa
é "impressionante". "Em 15 anos
de turismo, nunca vi nada igual."
Já nas companhias dos EUA...
"Tem vaga à vontade. Há vôos
abertos em todas as empresas para qualquer destino nos EUA", diz
Bárbara Magalhães, da agência
paulistana Wayout Turismo.
O brasileiro, indica a Embratur,
está indo menos aos EUA -caiu
de 670.970 pessoas, em 2000, para
466.330, em 2002 (queda de 30%).
E o cenário deve piorar, diz o mercado. "Turistas que moram onde
não há consulado, preço do visto,
burocracia e humilhação, tudo isso pesa contra os EUA", afirma
José Zuquim, 45, presidente da
Braztoa (Associação Brasileira
das Operadoras de Turismo).
Komatsu Shigehiko, diretor de
vendas da JAL (Japan Airlines),
diz que as companhias aéreas estão discutindo com o governo dos
EUA medidas para abolir o visto
de trânsito. Não está descartada
alteração de rota de escala.
A maneira como os brasileiros
são recebidos foi um dos temas da
reunião entre diplomatas dos dois
países, na terça, em Washington.
Os EUA decidiram elevar de três
meses para cinco anos a validade
do visto de trânsito e de um para
quatro anos o de estudante. Foi fixado em cinco anos o prazo geral
de visto para turista brasileiro.
O embaixador do Brasil nos
EUA, Rubens Barbosa, 65, disse,
de Washington, que os norte-americanos admitem que houve
confusões e excessos. "É bom que
todo cidadão saiba que, se for barrado, tem o direto de dar um telefonema ao consulado."
Disney em dez vezes
Para atrair clientes, a agência
Tia Augusta lançou um pacote
para Orlando por US$ 625, em até
dez vezes em reais. Em relação a
2002, os preços estão em média
10% menores em dólar. E o valor
da moeda caiu de R$ 3,10, na primeira quinzena de setembro de
2002, para os atuais R$ 2,95.
"Os preços estão convidativos,
mas o problema é o visto", reclama o economista Roberto Rodrigues da Silva, 54. Ele, a mulher,
Silvia, 54, e o filho, Roberto Machado, 29, obtiveram visto, mas a
neta Bruna, 9, não. No consulado,
diz, ninguém explicou por que só
a menina não obteve o visto.
"A Bruninha só fala em conhecer o Mickey, os olhos dela brilham", diz. "Nas próximas férias,
vou levá-la à Disney francesa."
A presença brasileira na Disney
americana, depois do 11 de Setembro, caiu pela metade. Além
disso, o escritório da Walt Disney
Parks & Resorts, que funciona há
oito anos em São Paulo e responde também por Argentina, Chile e
Uruguai, fecha as portas na próxima quarta. Segundo a empresa, a
matriz vai gerenciar as operações.
Os EUA também perdem terreno no intercâmbio, dizem agências de cursos de inglês. "Não vou
sofrer novo desgaste", diz o bombeiro Edson Roberto Oliveira
Mendes de Moura, 35, que teve o
visto para intercâmbio negado
três vezes, em 96, 97 e 98. Ele está
indo para Toronto fazer um curso
por 30 dias e não teme ser barrado. "Lá, o tratamento e o respeito
com o estrangeiro são outros."
Colaborou a Agência Folha
Leia a reportagem completa no site
www.uol.com.br/revista
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