São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2006

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"Vou começar a me amar", diz seqüestrador do ônibus

Ele ameaçou e agrediu a ex-mulher e manteve quase 60 reféns na última sexta

Cristina Ribeiro prestou depoimento e disse não ter raiva do ex-marido; defesa afirma que irá pedir um exame de sanidade no réu

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

O vigilante desempregado André Luiz Ribeiro da Silva, 35, que seqüestrou o ônibus 499 em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), na sexta, pediu desculpas à família e aos passageiros e disse estar arrependido. "Vou começar a me amar. Eu amava muito minha mulher e meus filhos e esqueci de me amar", disse ao chegar ao IML (Instituto Médico Legal), para fazer exame de corpo de delito.
Silva disse que "não queria causar esse tumulto". Ele manteve quase 60 pessoas presas em um ônibus. O seqüestro durou mais de dez horas. O alvo era a ex-mulher de André, a auxiliar de enfermagem Cristina Ribeiro, 36. Apesar de separados, ele afirmava a todos no ônibus que havia sido traído e que queria matá-la. Ninguém ficou ferido.
Na 52ª DP (Delegacia de Polícia), onde está preso, ele negou ter seqüestrado o ônibus e afirmou que "os passageiros é que não quiseram descer".
Não é o que entendeu o delegado que apura o caso, Paulo Roberto da Silva. Depois de ouvir 41 pessoas, ele afirmou que deve encerrar o inquérito na quinta e indiciar o desempregado sob acusação de seqüestro, porte ilegal de arma, disparo de arma de fogo e lesão corporal.
Ontem, foi a vez de a ex-mulher de André prestar depoimento. Mancando, com dores no corpo e usando um colar cervical, Cristina pediu às mulheres que tomem coragem e denunciem as agressões que sofrem. Ela foi agredida pelo marido durante o seqüestro. "Não tenho raiva dele, mas estou muito magoada", afirmou. Cristina disse que acredita no arrependimento do ex-marido.

Inquérito
À polícia, Cristina repetiu que é vítima de agressões há pelo menos seis anos. "Esse foi o ápice de uma série de agressões que ela sofreu por anos", afirmou o delegado.
Em seguida, Cristina prestou novo depoimento à titular da Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher), Lauren Faria. A vítima do seqüestro já havia registrado três queixas contra André na delegacia. As três foram encaminhadas à Justiça.
A primeira, em 2001, foi por lesão corporal. As outras duas foram em agosto e setembro deste ano. "Primeiro foi cárcere privado, ele a teria mantido num motel. Depois, foi coação no curso do processo, porque ele a ameaçou com uma arma para que ela retirasse a primeira queixa", disse Lauren.
O advogado de André, Flávio Fernandes, disse que não pretende entrar com pedido de habeas corpus por ora, mas que vai pedir um exame de sanidade mental no cliente, na tentativa de que ele obtenha o benefício da "inimputabilidade" - se o juiz disser que ele não tinha capacidade para entender o que fazia, ou que agia sob forte emoção, ele pode ter a pena reduzida em até dois terços.


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