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"Vou começar a me amar", diz seqüestrador do ônibus
Ele ameaçou e agrediu a ex-mulher e manteve quase 60 reféns na última sexta
Cristina Ribeiro prestou depoimento e disse não ter raiva do ex-marido; defesa afirma que irá pedir um exame de sanidade no réu
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
O vigilante desempregado
André Luiz Ribeiro da Silva, 35,
que seqüestrou o ônibus 499
em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), na sexta, pediu desculpas à família e aos passageiros e disse estar arrependido.
"Vou começar a me amar. Eu
amava muito minha mulher e
meus filhos e esqueci de me
amar", disse ao chegar ao IML
(Instituto Médico Legal), para
fazer exame de corpo de delito.
Silva disse que "não queria
causar esse tumulto". Ele manteve quase 60 pessoas presas
em um ônibus. O seqüestro durou mais de dez horas. O alvo
era a ex-mulher de André, a auxiliar de enfermagem Cristina
Ribeiro, 36. Apesar de separados, ele afirmava a todos no
ônibus que havia sido traído e
que queria matá-la. Ninguém
ficou ferido.
Na 52ª DP (Delegacia de Polícia), onde está preso, ele negou
ter seqüestrado o ônibus e afirmou que "os passageiros é que
não quiseram descer".
Não é o que entendeu o delegado que apura o caso, Paulo
Roberto da Silva. Depois de ouvir 41 pessoas, ele afirmou que
deve encerrar o inquérito na
quinta e indiciar o desempregado sob acusação de seqüestro,
porte ilegal de arma, disparo de
arma de fogo e lesão corporal.
Ontem, foi a vez de a ex-mulher de André prestar depoimento. Mancando, com dores
no corpo e usando um colar
cervical, Cristina pediu às mulheres que tomem coragem e
denunciem as agressões que
sofrem. Ela foi agredida pelo
marido durante o seqüestro.
"Não tenho raiva dele, mas estou muito magoada", afirmou.
Cristina disse que acredita no
arrependimento do ex-marido.
Inquérito
À polícia, Cristina repetiu
que é vítima de agressões há pelo menos seis anos. "Esse foi o
ápice de uma série de agressões
que ela sofreu por anos", afirmou o delegado.
Em seguida, Cristina prestou
novo depoimento à titular da
Deam (Delegacia Especial de
Atendimento à Mulher), Lauren Faria. A vítima do seqüestro já havia registrado três
queixas contra André na delegacia. As três foram encaminhadas à Justiça.
A primeira, em 2001, foi por
lesão corporal. As outras duas
foram em agosto e setembro
deste ano. "Primeiro foi cárcere
privado, ele a teria mantido
num motel. Depois, foi coação
no curso do processo, porque
ele a ameaçou com uma arma
para que ela retirasse a primeira queixa", disse Lauren.
O advogado de André, Flávio
Fernandes, disse que não pretende entrar com pedido de habeas corpus por ora, mas que
vai pedir um exame de sanidade mental no cliente, na tentativa de que ele obtenha o benefício da "inimputabilidade" -
se o juiz disser que ele não tinha
capacidade para entender o
que fazia, ou que agia sob forte
emoção, ele pode ter a pena reduzida em até dois terços.
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