São Paulo, sábado, 14 de novembro de 2009

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Crescem mortes envolvendo PMs de folga

Estatísticas em SP revelam aumento tanto de civis mortos por PMs fora do trabalho quanto de policiais mortos nessa situação

"O policial hoje, até por uma política de pronta resposta policial, mesmo no horário de folga, está reagindo mais", diz o comandante-geral da PM

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os homicídios envolvendo policiais militares no horário de folga cresceram neste ano no Estado de São Paulo -tanto quando o policial mata como quando ele próprio é a vítima.
Levantamento realizado pela Folha com base nos dados da Corregedoria da Polícia Militar apontam que, na comparação do período de janeiro a agosto deste ano com os mesmos meses de 2008, houve acréscimo de 56% no total de civis mortos por PMs no horário de folga -subiu de 64 vítimas para cem.
Os números também demonstram que a violência atinge cada vez mais os PMs quando eles estão à paisana, fora do trabalho. De janeiro a agosto de 2008, 37 PMs foram mortos; no mesmo período deste ano, foram 47 -aumento de 27%.
Na PM, os homicídios são alvo de apurações de Inquérito Policial Militar e também são estudados numa comissão de prevenção à letalidade.
As conclusões da comissão mostram que, em cerca de 50% dos casos em que PMs de folga mataram, eles seriam vítimas de tentativa de roubo. Em outros 35%, os PMs mataram ao tentar ajudar alguém assaltado; e 14% são casos como brigas ou com motivações passionais.
De acordo com o comandante-geral da PM, coronel Álvaro Batista Camilo, a letalidade envolvendo policiais no horário de folga é, de fato, uma preocupação de sua gestão à frente da tropa de cerca de 96 mil PMs.
Segundo Camilo, cada vez mais a PM investe na formação do policial para evitar que ele mate ou morra, seja no trabalho ou na folga. "O evento morte não é interessante para a polícia. A polícia tem que deter o infrator, fazer a prisão e colocá-lo atrás das grades", afirma.
"O policial hoje, até por uma política de pronta resposta policial, mesmo no horário de folga, está reagindo mais", diz o coronel Camilo. "Quando o PM está fardado, o próprio marginal já foge da ação. O policial à paisana está mais próximo da ação e não é percebido pelo marginal", afirma.
"Isso tem acontecido no horário de folga. Ele [PM] está infelizmente, muitas vezes, em um serviço extracorporação [o chamado "bico", proibido pelas regras da PM] e vai ser assaltado ou vê um assalto e tem atuado como policial", diz Camilo.
Procurado, o secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, não se manifestou sobre o assunto.
Um caso emblemático sobre violência envolvendo PMs no horário de folga ocorreu na noite de 26 de outubro passado. O soldado Olavo Viana de Souza, 30, do 37º Batalhão da PM, matou a tiros o também soldado Thiago Alves de Souza Batista, 22, do 16º Batalhão.
Os dois PMs estavam à paisana. Souza viu Batista apontar a arma para três homens num ponto de ônibus, pensou que fosse um ladrão e tentou prendê-lo. Os dois discutiram, houve troca de tiros e Batista acabou baleado. Souza foi preso.

Em serviço
O total de civis mortos por PMs em serviço também subiu. A comparação de janeiro a agosto de 2008 com o mesmo período deste ano mostra aumento de 31% -261 vítimas em 2008 contra 342 neste ano.
Já o total de PMs mortos no trabalho caiu 21% -19 no ano passado e 15 neste.


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