São Paulo, Terça-feira, 14 de Dezembro de 1999


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O RETORNO
Deputado cassado ganha mais que seu chefe para fazer anotações sobre carros da prefeitura
Garib volta com salário de R$ 5.000

CHICO DE GOIS
da Reportagem Local

O Gol vermelho, placas CSE 6571, ano 1999, encostou às 7h50 na portaria do SGTI (Serviço Geral de Transportes Internos), na rua Boracéa, 270, Barra Funda. Além do motorista, o vigia pôde ver um homem de terno preto, camisa listada, com gola e punhos brancos, abotoadura e relógio de ouro.
O homem desceu do carro e, pela postura, parecia um deputado -na verdade, um deputado cassado. Era Hanna Garib, que se apresentava para seu primeiro dia de serviço. Garib quis saber quem era o chefe e se dirigiu à sala de seu superior, o superintendente Paulo, que não quis dizer o sobrenome.
A cena foi constrangedora para ambos. Paulo, vestido sem formalismo, em mangas de camisa, tinha à sua frente um dos homens que mais poderes tivera na Câmara e um dos mais citados no escândalo conhecido como máfia da propina.
Paulo indicou ao ex-deputado sua nova tarefa: trabalhar na seção de inspeção técnica de veículos, um departamento que abriga quatro (cinco com ele, Garib) dos 220 funcionários do SGTI.
Contador de carreira, Garib voltou à prefeitura para completar o tempo que falta para se aposentar e passou a exercer uma função que, na prática, não existia. Sua tarefa resume-se a anotar em um formulário os problemas com os veículos oficiais da prefeitura. Feito isso, o veículo é encaminhado aos mecânicos, que o consertam.
O primeiro dia de trabalho do ex-deputado alterou a rotina do pacato departamento. Garib destoava dos demais colegas: além da vestimenta (os outros funcionários usam macacões azuis ou calça jeans e camisa), há a diferença salarial -enquanto ele ganha aproximadamente R$ 5 mil, seu chefe recebe em torno de R$ 2.500 e um mecânico que trabalha há 32 anos no departamento tem salário equivalente a um décimo, ou seja, R$ 501.
Outra distinção entre o ilustre servidor público e os outros funcionários: Garib chegou em um carro com motorista particular. Alguns de seus colegas pegam duas conduções para ir embora. O expediente terminou às 16h, mas Garib só saiu às 16h45, em um táxi. Havia dispensado o motorista por causa do rodízio.


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