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O RETORNO
Deputado cassado ganha mais que seu chefe para fazer anotações sobre carros da prefeitura
Garib volta com salário de R$ 5.000
CHICO DE GOIS
da Reportagem Local
O Gol vermelho, placas CSE
6571, ano 1999, encostou às 7h50
na portaria do SGTI (Serviço Geral de Transportes Internos), na
rua Boracéa, 270, Barra Funda.
Além do motorista, o vigia pôde
ver um homem de terno preto,
camisa listada, com gola e punhos brancos, abotoadura e relógio de ouro.
O homem desceu do carro e,
pela postura, parecia um deputado -na verdade, um deputado cassado. Era Hanna Garib,
que se apresentava para seu primeiro dia de serviço. Garib quis
saber quem era o chefe e se dirigiu à sala de seu superior, o superintendente Paulo, que não
quis dizer o sobrenome.
A cena foi constrangedora para ambos. Paulo, vestido sem
formalismo, em mangas de camisa, tinha à sua frente um dos
homens que mais poderes tivera
na Câmara e um dos mais citados no escândalo conhecido como máfia da propina.
Paulo indicou ao ex-deputado
sua nova tarefa: trabalhar na seção de inspeção técnica de veículos, um departamento que abriga quatro (cinco com ele, Garib)
dos 220 funcionários do SGTI.
Contador de carreira, Garib
voltou à prefeitura para completar o tempo que falta para se
aposentar e passou a exercer
uma função que, na prática, não
existia. Sua tarefa resume-se a
anotar em um formulário os
problemas com os veículos oficiais da prefeitura. Feito isso, o
veículo é encaminhado aos mecânicos, que o consertam.
O primeiro dia de trabalho do
ex-deputado alterou a rotina do
pacato departamento. Garib
destoava dos demais colegas:
além da vestimenta (os outros
funcionários usam macacões
azuis ou calça jeans e camisa), há
a diferença salarial -enquanto
ele ganha aproximadamente R$
5 mil, seu chefe recebe em torno
de R$ 2.500 e um mecânico que
trabalha há 32 anos no departamento tem salário equivalente a
um décimo, ou seja, R$ 501.
Outra distinção entre o ilustre
servidor público e os outros funcionários: Garib chegou em um
carro com motorista particular.
Alguns de seus colegas pegam
duas conduções para ir embora.
O expediente terminou às 16h,
mas Garib só saiu às 16h45, em
um táxi. Havia dispensado o
motorista por causa do rodízio.
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