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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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NATAL

Enfeites de lixo estão em shopping, banco e até metrô

Decoração com material reciclado une preocupação social à ambiental

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Folhas, flores, estrelas, guirlandas e até nuvens de garrafas plásticas; alegorias de jornais; sinos de papelão; bolas que já foram lâmpadas. Em tempos de taxa do lixo e retomada da coleta seletiva, até a tradicional oficina de Papai Noel aderiu à onda de reciclagem.
Seguindo o caminho do Conjunto Nacional (primeiro shopping de São Paulo), outras instituições da capital paulista aderiram à decoração de Natal reciclada, que, além de ser, em geral, mais barata, reúne preocupação ambiental e inclusão social num mesmo pacote, bem ao gosto do espírito das festas de fim de ano.
"O desafio é mostrar que é possível fazer coisas bonitas, desenvolver técnicas de forma que, quando a decoração está montada, você não diz do que ela foi feita", afirma Vilma Peramezza, síndica do Conjunto Nacional.
O prédio fez os primeiros enfeites com recicláveis em 2000, usa parte do que recolhe na coleta seletiva interna como matéria-prima e, neste ano, tem como vedete nuvens e mantos de fios de pet trançados em teares tradicionais.
O maior retorno para o investimento de R$ 50 mil -o aluguel de uma decoração tradicional não sairia por menos de R$ 800 mil- é ver a transformação dos materiais e das pessoas, diz a síndica.
Para confeccionar os adereços imaginados pelo cenógrafo Silvio Galvão, foram contratados, por R$ 250 mensais, albergados do Reciclázaro, projeto que busca resgatar moradores de rua por meio de atividades de reciclagem. "É emocionante ver catadores virarem artistas", conta Peramezza.
O banco Real aposta pela primeira vez no aproveitamento em enfeites de materiais que iriam ocupar espaço nos aterros sanitários ou até entupir bocas-de-lobo e assorear córregos. Também faz trabalho de conscientização. Em cinco ambientes temáticos, uma família Noel dá o bom exemplo e mostra que é possível reciclar papel e reutilizar metais, plásticos, vidros e madeira em casa.
"Na decoração, 80% do material é reciclado, e o resto o será depois que ela for desmontada. A partir de agora não tem volta, vamos fazer sempre assim", diz Dilson Motta, superintendente de marketing do Real. Segundo ele, os enfeites, além de tão bonitos quanto os convencionais, têm um impacto extra quando as pessoas descobrem do que foram feitos.
Os paulistanos poderão dar sua opinião. Até amanhã, as cerca de 750 mil pessoas que passam por dia na estação Sé do metrô podem eleger, dentre 22 árvores de Natal feitas com material reciclável, as mais bonitas.
Todas foram criadas por cooperativas de catadores de lixo e entidades que trabalham com a população de rua que tira seu sustento da venda desse tipo de produto. As cinco instituições mais votadas receberão cestas de Natal.
Para dar um brilho a mais à exposição, o Metrô cedeu aparas metálicas de sua oficina para que o artista Mauro Andriole criasse uma árvore de sucata.
Iniciativas do gênero não ocorrem só em São Paulo. Desde novembro, o Galpão das Artes Recicladas da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro) expõe 11 árvores criadas por artistas com madeira de demolição, garrafas, castiçais e sucata.
Em Gramado (RS), mais de 200 mil garrafas plásticas coletadas por estudantes enfeitam as ruas e praças que servem de cenário para uma das maiores celebrações natalinas do país, o Natal Luz.


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