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Viadutos inacabados são adotados por esportistas na região
Trecho de estrada abandonada no litoral norte vira atração turística
CYNARA MENEZES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Como no poema de Manoel de
Barros, o concreto metamorfoseou-se em paisagem: sobre o cimento, entre as orquídeas amarelas e os pequenos arbustos que já
despontam no viaduto esquecido,
uma codorna faz seu ninho. Aos
poucos, a mata vai absorvendo os
resquícios do que seria o traçado
original da rodovia Rio-Santos,
abandonado há mais de 25 anos.
A estrada federal (BR 101) começou a ser construída nos anos
60, passando por dentro da serra
do Mar e não paralela às praias do
litoral norte, como é hoje. Em
1976, o trecho Rio-Ubatuba já estava pronto e a ligação até Santos,
muito atrasada. Acabou-se aproveitando a via litorânea já existente, estadual, para possibilitar a
inauguração da rodovia.
Resultado: no meio da intensa
vegetação nativa, ficaram viadutos, túneis, pontilhões, muros de
contenção de encostas e alicerces
que, com o tempo, criaram musgo e se incorporaram ao verde. O
maior dos viadutos escondidos na
mata virou até atração turística
para praticantes de rapel, esporte
de aventura em que se desliza de
grandes alturas por cordas.
Com cerca de 300 m de extensão
e mais de 40 de altura, o viaduto
aparece depois de percorrida
meia hora de carro em uma estrada vicinal, construída pela Petrobras na altura do km 14 da rodovia Tamoios, no trecho que liga
Caraguatatuba a São Sebastião.
Não há ligação entre a edificação e os morros em volta: para pisar na ponte, é preciso escorregar
por uma corda ou escalar uma escada rudimentar de madeira
construída por frequentadores.
"A procura tem crescido muito,
principalmente entre praticantes
de rapel e bungee-jump (salto no
vazio com o atleta atado a um
elástico). Mas eu trocaria tudo pelo dinheiro do cimento gasto
aqui", sonha Glábio Amaral, 41,
guia treinado pela Prefeitura de
São Sebastião para "operar" em
viadutos abandonados.
Amaral tentou fazer uma trilha
maior pela estrada abandonada,
de Camburi até Caraguá, mas,
após três dias, desistiu. A mata
não permite mais a passagem.
Entre Camburi e Boiçucanga,
após 43 minutos de caminhada
pelo que restou do traçado, uma
picada de pouco mais de meio
metro de largura, reaparecem novos vestígios das estruturas.
COMO CHEGAR LÁ: Espaço Radical (0/
xx/12/3892-2750)
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