São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

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"Em vez de impor regra, pai opta por medicar"

DA REPORTAGEM LOCAL

Nem sempre o bagunceiro de ontem é o TDAH de hoje. Apesar de muitas escolas suspeitarem do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade assim que uma criança começa a se comportar mal na sala de aula, muitas vezes o que falta mesmo é limite.
Essa é a opinião de Lisandre Maria Castello Branco, professora de Ciências da Educação da USP. "Nenhum remédio cura a falta de educação. Em vez de impor regras, pais e professores optam por medicar, o que é mais fácil."
Para ela, as escolas precisam assumir o seu papel e aprender a trabalhar com crianças indisciplinadas. "O desafio não é ensinar um aluno quietinho, mas o que foge dos padrões." Quando uma criança for realmente TDAH, afirma, também é necessário que o colégio se adeqüe e trabalhe em conjunto com a família.
Presidente do sindicato das escolas particulares (Sieeesp), José Augusto Lourenço garante que é isso que os colégios estão fazendo. "As escolas têm se esforçado para que seus educadores saibam diferenciar a indisciplina do começo do distúrbio. Algumas já estão contratando psicopedagogos."
No Colégio São Luís, região central de São Paulo, os professores participam de cursos para se aprofundar no assunto e já identificaram vários casos de distúrbio.
"Tem criança que não é bagunceira, preguiçosa. Ela se comporta de forma diferente porque precisa de ajuda e, nesses casos, chamamos os pais", diz uma das coordenadoras da escola, Cristina Mazzocchi. "Se em casa também é assim, sugerimos que os pais procurem um especialista. As suspeitas quase sempre se confirmam."
Diagnóstico acertado, o próximo passo é ir ao médico. "A gente faz questão de acompanhar. Tivemos um aluno, por exemplo, que começou a tomar remédio e ficou esquisito. Avisamos o médico, que parou com a medicação."
Na Escola Santo Inácio, zona sul, a parceria também ocorre. "Damos palestras para os professores, que avisam os pais sobre qualquer alteração no comportamento", diz Maria Luiza Faria, uma das coordenadoras. "Quando o aluno é TDAH, fazemos um acompanhamento individual."
O Colégio Graphein, na zona oeste, é especializado em alunos com problemas de aprendizagem. Lá, boa parte tem TDAH e, por isso, a escola oferece uma estrutura diferenciada: os alunos são agrupados por áreas de interesse, o conteúdo é personalizado e cada professor ensina, no máximo, oito estudantes. "Cada dia é um desafio. Mas não desistimos de ensinar ninguém ", diz a diretora, Nívea Fabrício. (DT)


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