São Paulo, sexta, 15 de janeiro de 1999

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TRANSPORTES
Duas linhas em pior estado de conservação não foram incluídas na licitação e continuam em poder do Estado
Privatização exclui piores ferrovias do RJ

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Lixo jogado ao lado de linha férrea do Rio na altura do bairro da Pavuna, na Baixada Fluminense


SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

As duas linhas ferroviárias em pior estado de conservação foram esquecidas pelo governo do Rio na privatização do sistema fluminense de trens urbanos.
Deficitários, com trens sem portas e janelas circulando por trilhos a até 1 m de casas e barracos, os ramais de Niterói e Guapimirim (municípios na região metropolitana) são os mais perigosos.
Ambos continuam sob a administração da Flumitrens (Companhia Fluminense de Trens Urbanos). São os únicos no Estado.
Os demais, que circulam na capital e na Baixada Fluminense, foram comprados pelo consórcio SuperVia, em leilão de privatização ocorrido em julho -um negócio de RÏ 279,6 milhões.
A compra excluiu os ramais que ligam Niterói a Visconde de Itaboraí (no município de Itaboraí) e Saracuruna (Duque de Caxias) à cidade de Guapimirim. O motivo da exclusão é tema pouco abordado. A SuperVia alega que os ramais não estavam incluídos no edital de licitação. Na Flumitrens, a versão é outra: o abandono é tamanho que a empresa teria condicionado a ida ao leilão à retirada desses ramais.
Há pelo menos 20 anos não são feitos investimentos importantes nos ramais. Como resultado, trens semidestroçados atravessam bairros em que invasores construíram nas margens dos trilhos.
No ramal de Niterói, viajam cerca de 13 mil passageiros por mês. A passagem custa RÏ 0,65, mas, pela falta de controle, metade dos viajantes entra sem pagar.
Os riscos são listados por ferroviários: trilhos de até 50 anos totalmente gastos, animais cruzando a linha, crianças nos dormentes e trens com "gatilhos" (consertos improvisados) nas máquinas.
Situação parecida ocorre no ramal de Guapimirim, cuja média mensal de passageiros é de 19 mil.
Se os trens funcionassem, muito mais gente seria beneficiada. Há pelo menos 500 mil pessoas de baixa renda que poderiam usar os ramais para ir de casa para o trabalho nas cidades maiores.
Essa demanda reprimida tem apenas ônibus muito mais caros como opção. A viagem em ônibus entre Niterói e Visconde de Itaboraí custa RÏ 1,70.
As linhas são tão abandonadas que nem a Flumitrens avalia os déficits. Para este ano, a empresa fixou em RÏ 24 milhões o orçamento para a reforma e a manutenção dos ramais remanescentes.
Não quer dizer que vá receber o dinheiro. Possivelmente não vai, pois o atual governo tem discordado das destinações de quantias traçadas pelo anterior. Os planos da Flumitrens para a recuperação dos ramais prevêem a construção de estações, a modernização de trens e até a transferência dos invasores.



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