São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUSTIÇA

Para advogada, processo tem contradições e faltam provas para responsabilizar os 2 skinheads pela morte do adestrador

Defesa culpa mídia e promete recorrer

DA REPORTAGEM LOCAL

A defesa dos skinheads Juliano Filipini Sabino e José Nilson Pereira da Silva promete recorrer da decisão do júri popular, mas ainda não definiu os argumentos que usará para reverter a condenação.
"É uma obrigação nossa recorrer. Ainda vamos estudar de que forma. Pode ter a certeza de uma coisa: a pressão da mídia influenciou", disse Irene Hajaj, uma das advogadas. O prazo para contestação é de cinco dias.
"O processo apresenta muitas contradições. Com as provas que existem, não dá para dizer que eles são responsáveis pelo crime", afirmou Hajaj.
Além dos dois skinheads condenados a 21 anos de prisão, outros quatro deveriam ter sido julgados anteontem, mas os advogados decidiram separar os processos. A data do próximo júri deve sair até o final desta semana.
Sabino e Pereira da Silva estavam presos no Centro de Detenção Provisória de Osasco (região metropolitana de São Paulo), que registrou um motim anteontem.
Dos 18 acusados (duas mulheres e 16 homens), nove continuam presos pela morte do adestrador Edson Neris da Silva (um deles, Jorge da Conceição Soler, em sistema domiciliar, por ter confessado sua participação e delatado os demais). Dois estão detidos por crimes anteriores.
Os outros sete estão em liberdade provisória porque não foram pronunciados pela Justiça por homicídio, mas apenas por formação de quadrilha.
Um irmão e uma irmã de Pereira da Silva, que não quiseram se identificar, deixaram o fórum chorando ontem de madrugada, após a divulgação da sentença.
"Eu não acredito mais na Justiça. Desde criança, ele é apenas uma pessoa que defende a nação brasileira", disse o rapaz.
"Por que filho de juiz queima índio e deixa a cadeia? Não existe Justiça para pobre?", questionou a menina.
Eles dizem temer pela segurança dos dois condenados a partir de agora. "Não é nem receio, é certeza de que eles vão apanhar. O convívio na cadeia é muito complicado. Eles podem morrer lá dentro", disse o irmão.
Segundo eles, os próximos 16 skinheads que serão julgados dificilmente vão confessar participação no assassinato de Neris da Silva, pois correm risco de sofrer represálias na cadeia.
Para o promotor Marcelo Milani, a condenação de Sabino e Pereira da Silva deve influenciar os próximos julgamentos. "É um primeiro passo, um precedente para condenar os outros que fazem parte da gangue nazista."
(ALENCAR IZIDORO)


Texto Anterior: Justiça: Skinheads são condenados por morte de gay
Próximo Texto: "É um marco para a nossa causa"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.